São Paulo, domingo, 22 de dezembro de 1996
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Asiagate ameaça estabilidade de Clinton

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

O Departamento da Justiça dos EUA intimou o Partido Democrata, do presidente Bill Clinton, e a Casa Branca, sede do governo federal, a lhe entregarem todos os documentos sobre doações recebidas de estrangeiros ou descendentes de imigrantes desde 1992.
O chamado Asiagate, caso que envolve contribuições financeiras suspeitas de ilegalidade feitas aos democratas ou a fundos destinados a pagar as despesas da defesa de Clinton em outros casos, cresce em importância política e é a principal ameaça à estabilidade do segundo mandato do presidente.
Na sexta-feira, quando anunciava os nomes finais do seu novo ministério, um indisfarçavelmente constrangido presidente admitiu em público que não deveria ter recebido para um encontro íntimo na Casa Branca um traficante de armas de fabricação chinesa.
"Precisamos ser mais cuidadosos ao escrutinar quem entra na Casa Branca", disse Clinton, que antes já havia passado o vexame de reconhecer ter encontrado um traficante de drogas condenado.
Quem levou Wang Jun para um café na Casa Branca foi o novo pivô do Asiagate, Charles Yah Trie, responsável pela coleta dos US$ 640 mil que o Fundo de Defesa Legal do presidente devolveu por suspeitar que eles tenham sido produto de lavagem de dinheiro.
Trie é um imigrante chinês, dono de restaurantes e outros negócios em Little Rock, Arkansas, Estado natal de Clinton, e amigo de anos do presidente e da primeira-dama, a quem visitou pelo menos 23 vezes na Casa Branca.
Clinton tentou transformar a devolução dos US$ 640 mil em prova de probidade dos que formaram o Fundo de Defesa para pagar suas despesas com advogados.
Mas, após o Partido Democrata também ter devolvido cerca de US$ 1,4 milhão de doações à campanha pela reeleição por considerá-las suspeitas de ilegalidade, há a desconfiança de que se o Asiagate não tivesse estourado, às vésperas da eleição, talvez os US$ 2 milhões tivessem ficado onde estavam.
O coordenador das contribuições suspeitas para a reeleição de Clinton, John Huang, também é seu amigo de longa data e, como Trie, esteve dezenas de vezes na Casa Branca, quase sempre acompanhado de empresários asiáticos.
O prestígio que acompanhou a reeleição de Clinton lhe permitiu escapar com alguma facilidade das questões embaraçosas sobre as atividades de Huang no Departamento do Comércio e suas relações com o grupo Lippo, da Indonésia, de onde saíram muitas das contribuições suspeitas.
Ao contrário de Whitewater, um caso que nunca chegou a "pegar" na opinião pública, o Asiagate desperta enorme interesse e não deve dar sossego a Clinton.

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