São Paulo, domingo, 22 de dezembro de 1996
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Alunos têm 'polícia' própria para evitar violência

LÚCIA MARTINS
DA ENVIADA ESPECIAL

Desde que as manifestações começaram, há mais de um mês, os estudantes sérvios da Faculdade de Filosofia (centro de Belgrado) criaram uma "polícia" própria.
São grupos de 25 alunos, identificados com crachás e rádios, que fazem a segurança dos prédios e organizam as passeatas. Nenhuma pessoa pode entrar nas faculdades sem provar que é estudante.
Segundo os próprios estudantes, o controle da entrada é feito para evitar violência e incidentes. Os "policiais" também circulam pelos corredores da escola, se comunicando por rádio.
Como na grande maioria dos cursos não há aulas desde novembro, os responsáveis pela segurança asseguram que ninguém fica "à toa" nas salas de aula.
O grupo da guarda foi escolhido por uma espécie de "parlamento" eleito pelos alunos e responsável pela organização dos protestos.
Durante os protestos, são os "policiais" que ficam na frente dos manifestantes, dando ordens e controlando o ritmo da passeata.
Problemas econômicos
Um dos principais motivos que parece motivar a adesão dos estudantes aos protestos de rua é a situação econômica do país.
"Não há um só dia em que eu não pense em mudar de país. É impossível levar uma vida normal, com tudo caro e sem emprego", disse a estudante de jornalismo Danka Petej, 22, em um protesto.
Danka repete o coro de reclamações que, ao lado da anulação das eleições municipais, mobilizam diariamente cerca de 100 mil dos 2 milhões de habitantes de Belgrado há mais de um mês. Segundo a oposição, cerca de 45% da população do país está desempregada.
O desemprego é um dos efeitos do envolvimento da Sérvia na guerra da Bósnia. Slobodan Milosevic foi eleito em 1990 presidente da Sérvia, na época uma das repúblicas que integravam a Iugoslávia.
Em 1992, surgiu a autoproclamada República Federal da Iugoslávia, em 1992, formada por Sérvia, Montenegro e Kosovo.
Por causa do apoio aos sérvios da Bósnia, a nova Iugoslávia vive sob embargo imposto pela comunidade internacional, o que encarece ainda mais o custo de vida.
Mesmo quem pode contar com um salário vive dificuldades. Um profissional liberal -médico ou jornalista- ganha por mês cerca de 1.500 dinares, a moeda local (US$ 300). Um operário recebe cerca de 600 dinares (US$ 120).
Um aluguel na capital sérvia de um apartamento de dois quartos em um edifício caindo aos pedaços no centro velho da cidade custa cerca de mil dinares (US$ 200).
Uma refeição simples (frango com batata frita, por exemplo) não sai por menos de 50 dinares (US$ 10), um telefonema local custa 5 dinares (US$ 1) por minuto e uma TV Sony de 24 polegadas custa cerca de 3.500 dinares (US$ 700).
Danka é estagiária não-remunerada no jornal independente "Democracia". Seu pai, um técnico que trabalha na empresa de telecomunicações do governo, ganha US$ 260 por mês.
(LM)

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