São Paulo, domingo, 22 de dezembro de 1996
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MRTA procura ressurgir com sequestro

SAUL HUDSON
DA "REUTER", EM LIMA

O cerco à residência do embaixador japonês em Lima (capital do Peru) pelo Movimento Revolucionário Tupac Amaru (MRTA) é uma tentativa final de relançar um grupo que está em decadência, disseram analistas.
"Eles foram dizimados. Estão jogando sua última cartada numa tentativa de ressuscitar seu movimento", afirmou o sociólogo peruano Raul Gonzales.
Atualmente, o MRTA não tem mais de 80 membros ativos ante os cerca de 800 militantes com que contava no final dos anos 80, disse o especialista peruano em guerrilhas Carlos Tapia. "Cerca de 450 de seus integrantes estão presos", acrescentou ele.
A violência no Peru, provocada pelo MRTA e pelo muito maior e anteriormente mais bem conhecido Sendero Luminoso, chegou ao auge no final dos anos 80 e começo dos 90, mas recuou depois da captura de alguns importantes líderes guerrilheiros em 1992.
O MRTA conquistou apoio em seu período inicial (começo dos anos 80) como um movimento à Robin Hood, que roubava dos ricos para dar aos pobres. Com o passar do tempo, porém, passou a se dedicar mais a raptos, atentados a bomba e ao narcotráfico, e acabou por perder o apoio popular.
Segundo Tapia, diferentemente do Sendero Luminoso, o MRTA jamais foi uma ameaça séria à segurança nacional do Peru.
"Não acredito que o MRTA mate ninguém (na residência). Suas operações nunca envolveram uma violência sistemática", disse David Scott Palmer, escritor especializado na guerrilha peruana e que vive nos Estados Unidos.
O MRTA foi responsável por cerca de 200 mortes de soldados e policiais peruanos. Segundo Tapia, nos 16 anos de guerrilha do país, houve mais de 30 mil baixas fatais.
O grupo jamais havia conduzido um ataque importante à capital, mas planejou um atentado espetacular ao Congresso no ano passado. O atentado foi impedido pela polícia antiterrorista.
"Eles (o MRTA) têm uma série de exigências, mas na prática querem ser incorporados à política legal", afirmou Tapia.
O cerco à casa do embaixador colocou o grupo sob os holofotes da mídia internacional e deu-lhe a oportunidade de "reforçar sua imagem de Robin Hood e, no momento certo, se tornar um movimento político", disse Palmer.
Para Tapia, o cerco à embaixada foi uma maneira de forçar o governo a considerar essa possibilidade frente à consistente posição linha dura do presidente do Peru, Alberto Fujimori, de não negociar com a guerrilha.

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