São Paulo, quarta-feira, 25 de dezembro de 1996
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Frota de ônibus resiste ao gás até 2006

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Apenas 133 dos cerca de 10.500 ônibus paulistanos têm motor a gás. Embora não exista um prazo legal para a conversão de toda a frota, a prefeitura acredita que em dez anos todos os veículos estarão usando o novo combustível.
A lei anterior fixava para 2001 o fim do diesel no transporte urbano de passageiros. Ou seja, daqui a cinco anos. Mas ela não trazia cronograma de implantação.
Teoricamente, a Transurb, sindicato das empresas de ônibus, poderia deixar a adoção dos novos veículos para o último ano.
A questão, de qualquer modo, permanece controvertida. Tem todos os ingredientes de um lobby que pressiona e outro que resiste, com argumentos técnicos que reforçam a posição dos dois lados.
Não há convergência sequer sobre a parcela de responsabilidade dos ônibus na poluição ambiental.
Maurício da Cunha, presidente da Transurb, diz que a frota não produz mais que 4% das partículas inaláveis. O que é matematicamente correto: os ônibus representam só aquela porcentagem dos 450 mil veículos a diesel que circulam na cidade.
"O cálculo não é bem este", responde Alfred Szwarc, diretor de engenharia ambiental da Cetesb, o órgão estadual especializado.
Seu argumento: em corredores de tráfego como a avenida Celso Garcia, o ônibus é uma fonte contínua de emissão de poluentes, com algo em torno de 70% a 80% do estrago na qualidade do ar.
Ainda na área do governo do Estado, o secretário Fábio Feldmann, do Meio Ambiente, reconhece que os empresários têm razão ao não confiarem em um combustível que ainda não está disponível.
Diz, no entanto, que dentro de três anos haverá abundância de gás natural, com a abertura dos dutos entre a Bolívia e o Centro-Sul brasileiro.
"É temerário raciocinar em termos de toda a frota a gás", responde Cunha. "O sistema pode entrar em colapso, sem que tenhamos a flexibilidade de abastecimento que o diesel fornece."
Na prefeitura, a idéia é só aplicar a lei. A SPTrans, empresa que sucedeu a CMTC na gestão dos transportes urbanos, está legalmente obrigada a aplicar o PAC (Plano de Alteração de Combustível).
"Em dez anos a frota estará convertida", diz Washington Elias Corrêa, diretor de gestão operacional. "Há muitas dificuldades, mas todas podem ser contornadas", diz Sidney Henrique Pinto, responsável direto pelo PAC.
Uma delas está no preço dos veículos com motor a gás. Enquanto o modelo standard a diesel custa R$ 100 mil, o equipado para funcionar com o novo combustível custaria hoje R$ 115 mil.
A idéia é pedir uma abertura de crédito ao BNDES (banco federal de fomento), para que os empresários tenham condições preferenciais num projeto experimental que se alastrará pelo país.
"Se o gás se tornar um bom negócio, as empresas não terão motivos para resistir", diz o diretor da SPTrans.

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