São Paulo, quarta-feira, 25 de dezembro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

DÉFICITS DE EQUIDADE

A Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe, ou Cepal, órgão das Nações Unidas, entrou para a história a partir do final dos anos 50 como um dos centros da teoria da industrialização na periferia.
A Cepal mostrava que os exportadores de matérias-primas ficavam em desvantagem no comércio internacional e recomendava a industrialização para tirar a América Latina do círculo vicioso da miséria.
Na última segunda-feira, a mesma Cepal divulgou um relatório decisivo. O informe revela que, pela primeira vez na história da região, os embarques de bens duráveis e de capital superaram o volume de vendas de matérias-primas.
Ou seja, ainda que hoje o processo de substituição de importações tenha chegado ao seu limite, o fato é que a América Latina industrializou-se e, de certa forma, o projeto dos anos 50 acabou se realizando.
Ao mesmo tempo, os dados revelam aspectos curiosos que levam a outras conclusões, mais críticas sobre o passado, e que servem de alerta para o futuro. Percebe-se, por exemplo, que estão na categoria de grandes exportadores de produtos industrializados, ao lado do Brasil, países como Barbados e Uruguai.
Enfim, se nações como o México e a Venezuela de fato conseguiram industrializar-se, outras provavelmente são apenas plataformas de exportação, bases para a montagem de componentes importados sem uma industrialização efetiva.
Outro fato inegável é que, apesar da industrialização, onde ela de fato ocorreu, a esperança de redução da desigualdade e da exclusão foi inequivocamente frustrada.
Embora em vários países tenham surgido classes médias, a exclusão não diminui, nem as tendências demográficas e de urbanização levaram a uma melhoria nos padrões de vida.
Essas lacunas cobram agora seu preço. No lugar da velha industrialização, o desafio do século 21 é a produção intensiva em conhecimento e tecnologia, para a qual só estarão preparadas as economias que reduzirem seus déficits de equidade.

Texto Anterior: REFORMAS INJUSTIÇADAS
Próximo Texto: CONTRA AS CHEIAS
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.