São Paulo, quarta-feira, 25 de dezembro de 1996
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Enquanto brilham as luzes

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - Minha mulher olha para os incontáveis enfeites luminosos de Natal espalhados pela cidade e vê neles a expressão visual de um estado de ânimo positivo dos brasileiros.
Na Folha, leio, no entanto, que a proliferação das luzinhas se deve, acima de tudo, ao baixo preço das pequenas lâmpadas que compõem uma árvore de Natal aqui, uma cascata de luzes ali, um Papai Noel acolá etc.
É provável que a verdade, como em geral ocorre, esteja no meio-termo. O preço das lâmpadas ajuda, mas o astral de uma parcela substancial dos brasileiros é, neste Natal, mais favorável do que na maioria dos anteriores recentes.
Flutua no ar o que os ingleses chamam de "feel good factor". Boa parte das pessoas se sente bem.
É certamente efeito da derrubada da inflação, um flagelo que atormentou os brasileiros por tanto tempo que parecia incorporado para sempre à paisagem nacional.
Sorte do presidente da República. O cavalo da fortuna passou arriado à sua frente não uma, mas duas vezes. A primeira, na campanha eleitoral de 1994, realizada quase toda sob o influxo positivo do Plano Real.
A segunda é agora. É a chance de ouro para tentar fazer algo mais do que estabilizar a economia, uma tarefa nobre, mas insuficiente para dar ao país os contornos de um lugar realmente agradável e digno de se viver.
Hora, por exemplo, de pensar além do próximo mês, do próximo ano, e descobrir o que o Brasil pode e quer ser quando afinal crescer (se finalmente crescer).
Há países bem menores, como a Malásia, que já têm programas definidos para o ano de 2020, entre eles o de se tornar o primeiro governo "paperless" (sem papel) do mundo. Tudo informatizado.
No Brasil, o governo ainda precisa descobrir o seu papel, no outro sentido da palavra. Melhor fazê-lo enquanto brilham as luzes.

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