São Paulo, sexta-feira, 27 de dezembro de 1996
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Mercado exclui jovens e desqualificados

HUMBERTO SACCOMANDI
DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado de trabalho na Grande São Paulo está exigindo cada vez mais qualificação dos trabalhadores. Isso exclui os jovens e aqueles com baixa escolaridade.
Essa é uma das conclusões de um estudo inédito sobre a evolução do emprego na região entre 1988 e 1995, realizado por economistas do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).
Segundo a pesquisa, 59,1% dos empregados na Grande SP não tinham o primeiro grau completo em 1988. Em 1995, esse percentual já tinha caído para 47,8%.
A idade média dos ocupados na região vem crescendo. Em 1988, 30,6% dos ocupados tinham até 24 anos. Em 1995, eram 26,1%.
Essa evolução se deve a uma combinação de dois fatores, segundo o economista Edgard Luiz Gutierrez Alves, um dos autores da pesquisa, juntamente com Brunu Marcus Ferreira Amorim e George Henrique de Moura Cunha.
Por um lado, houve um aumento no nível de escolaridade dos trabalhadores nesse período.
Por outro, o mercado de trabalho está mais seletivo: favorece trabalhadores com mais qualificação, isto é, uma combinação de experiência e escolaridade.
Excluídos
"O problema é que essa maior seletividade do mercado está criando uma verdadeira legião de excluídos", disse Alves.
"Mais da metade dos trabalhadores brasileiros não têm primeiro grau completo. Há cada vez menos oferta de emprego para essa gente", afirmou.
Segundo o último Censo Demográfico do IBGE, 68% da população paulista com idade acima de 10 anos não tinha o primeiro grau completo em 1991. Em todo o Brasil, esse número sobe para 75%.
"Esse é um problema que vai acabar sobrando para o Estado", adverte o economista.
Para a pesquisadora Paula Montagnier, da Fundação Seade, a diminuição de postos de trabalho que envolvem menor qualificação, especialmente na indústria, é um dos grandes problemas que o Brasil está enfrentando.
"Há muitos desempregados com primeiro grau completo. Diante dessa oferta, o mercado eleva suas exigências, mesmo para funções que não exigiriam qualificações", disse.
O desemprego na Grande São Paulo atingiu 14,5% da população economicamente ativa (PEA) em novembro deste ano, segundo dados divulgados pelo Seade.
Indústria
Entre 1988 e 1995, o setor que mais reduziu a oferta de postos de trabalho na região foi a indústria, que empregava 32,1% dos ocupados e passou a 24,8%.
Nesse segmento, foram as indústrias de alta tecnologia (metalúrgica, mecânica, eletro-eletrônica, química etc) as que mais demitiram, principalmente devido à maior eficiência na produção.
Essa contração prejudicou principalmente os homens, que compõem a maior parte da força de trabalho na indústria.
Já os setores que mais cresceram foram comércio e serviço, favorecendo a ocupação das mulheres.
Entre 1988 e 1995, a participação da mulher no mercado de trabalho na Grande São Paulo subiu de 38,2% para 40,8%.
"Acreditamos que parte do aumento da ocupação das mulheres se deve ao desemprego do chefe de família", disse Montagnier.
Essa maior seletividade do mercado de trabalho nos últimos anos não significou, porém, um aumento nos salários pagos.
Pelo contrário. Segundo o estudo dos economistas do Ipea, o salário médio caiu cerca de 26% entre 1988 e 1995.

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