São Paulo, sábado, 28 de dezembro de 1996
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Parto de garota de até 14 anos cresce 6,5%

FERNANDO PAULINO NETO
DA SUCURSAL DO RIO

O número de partos de adolescentes entre 10 e 14 anos no país aumentou cerca de 6,5% em 1995, em relação a 1993, enquanto a população nessa faixa etária não chegou a crescer 0,5% no período.
Apenas na rede de SUS (Sistema Único de Saúde), 28.282 jovens de até 14 anos tiveram filhos. Em 93, esse número havia sido de 26.505, segundo pesquisa do Bemfam (Sociedade Civil de Bem-Estar Familiar), que está sendo analisada pelo Ipea.
"É um grande crescimento", afirma a coordenadora de Estudos Populacionais do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Ana Amélia Cantarano.
Segundo ela, "esse número deve estar subestimado, pois se refere apenas à rede do SUS".
Não estão incluídos na pesquisa, que ouviu 17 mil mulheres em todo o país, os partos feitos em casa, em clínicas particulares e abortos espontâneos e provocados.
Segundo Cantarano, os abortos espontâneos nessa faixa etária são comuns em razão de o corpo da adolescente ainda não estar totalmente formado.
"Se existisse só uma (jovem mãe entre 10 e 14 anos), já seria motivo para preocupação", diz ela.
Para o diretor da Maternidade Escola da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), José Leonídio Pereira, a frequência de gravidez precoce "é inversamente proporcional à renda da família".
Para ele, a sexualidade exibida na TV é um dos motivos do crescimento. "A partir do momento em que o apelo à sexualidade não tem limite, os jovens são introduzidos cada vez mais cedo no sexo."
"O mínimo que se pode esperar é que elas engravidem", diz Pereira. "Só se fala de camisinha na televisão como prevenção à Aids, e não como anticoncepcional."
Para ele, as novelas da TV também não mostram as consequências dos atos sexuais. "Em cinco novelas houve abortos em adolescentes que caíram da escada."
Para mostrar que a gravidez de adolescentes está diretamente ligada à condição social, Pereira diz que, em Jacarepaguá, zona oeste do Rio, bairro de classe média baixa, houve 24 partos de jovens entre 10 e 14 anos. Na vizinha Barra da Tijuca, de classe média alta, só um.
Também entre adolescentes de 15 a 19 anos está havendo crescimento de casos de gravidez. Segundo Cantarano, somente nas regiões Sul e Sudeste houve redução dos partos nessa faixa etária.

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