São Paulo, terça-feira, 31 de dezembro de 1996
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Oscar, Pelé e a imprensa babona

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Basta olhar para Oscar Schmidt para sentir por ele uma empatia imediata, instintiva. Ele é daquelas pessoas que provocam nos outros uma sensação difusa de coisa boa.
Oscar, no fundo, é uma criança, só que tem mais de dois metros. Talvez esse desajuste, esse desacordo entre a "carcaça" e o espírito seja o segredo de sua simpatia fundamental. Como no filme "Jack", em que Robin Williams vive o papel de uma criança com idade mental de dez anos no corpo de um adulto de 40.
O fato de que seja "Maluf desde criancinha", como ele diz, sorridente, também faz parte de seu jeitão pueril. Nessa vida há de tudo e, na diversidade da criação, há lugar para malufistas bem-intencionados. Oscar parece ser um deles.
Isso posto, há uma enorme distância entre ser "Maluf" e assumir a Secretaria Municipal de Esportes de São Paulo. Do lado de Celso Pitta, a nomeação é antes de tudo uma jogada de marketing, aliás muito parecido com o que fez FHC quando escolheu Pelé para ministro dos Esportes.
Mas e do lado de Oscar? Anteontem ele foi ao "Toque de Bola", da Rede Manchete. Mostrou-se animado, concentrado com as novas responsabilidades. Disse que precisará de assessores e técnicos bem preparados para ajudá-lo.
Mas a impressão que fica, apesar do esforço, é de que Oscar não sabe onde vai pisar. É uma incógnita se ele terá estômago para entrar no jogo da política ou se, pelo contrário, irá se desiludir logo ao ver como funciona esse jogo de "gente grande", do qual as crianças não devem participar.
Anteontem Oscar esteve muito mais à vontade e parecido com ele mesmo quando falou que sua cadelinha Lili, um beagle, é "uma pestinha que rói qualquer pé de mesa" ou quando lembrou, feliz da vida, que seu pai na infância o educou "à base de muita banana".
*
Ano vem, ano vai, o mundo gira, a Lusitana roda e há uma certa imprensa esportiva que não sai do lugar, não tem jeito.
Foi muito constrangedora a entrevista de Roberto Avallone com o ministro Pelé exibida anteontem dentro do "Mesa-Redonda", da CNT/Gazeta.
Pelé está em seu gabinete, terno e gravata, com foto oficial de FHC na parede ao fundo. Avallone veste uma jaqueta marrom e calça vermelha, com um jeitão de Erasmo Carlos. Até aí... bem até aí já não está tudo bem, mas vá lá.
O pior vem depois. Começa a "entrevista" (é título de cortesia) e vem a enxurrada de babação e promiscuidade, aquela simbiose entre entrevistador e entrevistado que destrói qualquer credibilidade.
No final, Avallone e sua equipe, atrás das câmeras, aplaudem longamente o ministro amigão. Não dá.
Se quiser homenagear Pelé, dizer que é íntimo do "rei do futebol" há muitas décadas, que o faça privadamente, longe dos telespectadores. O homem é ministro de Estado, está no poder, não pode ser bajulado como se todos estivessem num bar, numa confraternização de firma no fim de ano. Mas quem ainda não entendeu isso, não é em 97 que vai aprender.
*
Um réveillon bacana e um 97 camarada para todos nós.

Excepcionalmente não publicamos hoje a coluna de Matinas Suzuki Jr.

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