São Paulo, quinta-feira, 1 de fevereiro de 1996
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Brasil vive o seu clímax: o verão chegou!

DAVID DREW ZINGG
EM SAMPA

A cidade está no cio outra vez!
O calor e o desejo chegam a São Paulo, e todos nós começamos a viver fantasias de beira-de-calçada, danças bêbadas, explosões dentro de quatro paredes e pesadelos temperados a ar-condicionado.
Tudo isso, Joãozinho, é estranho, chocante e tentador.
As mulheres andam por aí vestindo quase nada.
Janeiro, o início de nosso verão, é (escolha uma alternativa): 1 - uma delícia total ou 2 - a insatisfação que se abate sobre nós. Este é o mês em que os paulistas pensam mais em sexo do que nos 11 outros juntos.
Finalmente, com a chegada das temperaturas superiores aos 30 graus, podemos fazer de conta que somos brasileiros tropicais de verdade, até aqui, no meio da selva de pedra.
Podemos fazer de conta que vivemos num país tropical, repleto de políticos corruptos, chefões do tráfico, estradas poeirentas cheias de crateras, encanamentos entupidos -onde nada vai melhorar, nunca, portanto o melhor que temos a fazer é desligar o ar-condicionado e partir para a farra.
Sob uma fachada de assustadora eficiência, a psique da maioria dos paulistanos está desmoronando. Sob o efeito do calor, ela começa a rachar.
Pensamentos e sentimentos maus borbulham até a superfície.
Esses sentimentos nos levam a adotar maus comportamentos, do tipo que os paulistas sabem adotar tão bem.
Relacionamentos se rompem. As pessoas vão à praia à procura de encrenca -e encontram.
Debaixo deste solzão não dá pra confiar em ninguém, menos ainda em você mesmo.
O fato é que todos nós estamos andando por aí com visões de sexo na cabeça.
Mesmo tio Dave, que deveria ter ido a algum posto de atendimento médico uns 50 anos atrás para reabastecer seu tanque de hormônios, sofre quentes miragens veranis. Ninguém está livre delas.
O verão traz consigo todas aquelas idéias malucas sobre o que podemos fazer com aqueles dias de ócio e doideira sobre os quais os poetas escrevem usando palavras como ócio e doideira.
Todos nós passamos o tempo pensando principalmente em sexo -o bom e velho sexo brasileiro daquele tipo antiquado, sacana, patriótico, tipo soltar rojões na praia.
Acho que todos nós nos orgulhamos de fazê-lo à moda caseira, patriótica, brasileira. Afinal, é nesse produto que o Brasil é líder mundial. Os brasileiros fazem sexo como os suíços fazem relógios-cucos: é o que sabem fazer muito bem.
É o sexo brasileiro que chama a enxurrada de turistas gringos para nossas tórridas praias. Nós (eu, depois de cerca de 30 anos vividos no país, me incluo nessa categoria na condição de praticante honorário dessa arte) o fazemos com um charme e uma habilidade natural que traem as centenas de anos de lição de casa feita debaixo das palmeiras.
Por favor, Joãozinho, entenda o que quero dizer. Não estou dizendo que o Brasil atrai visitantes interessados em turismo sexual, embora exista um pouco disso no nordeste.
Estou afirmando, apenas, que somos bons em uma coisa, e que o mundo inteiro sabe disso e morre de inveja. Pessoas de sociedades mais avançadas já avançaram tanto que têm dificuldade em divertir-se fazendo sexo.
D.H. Lawrence deu um duro danado para atrair os ingleses para o playground sexual, mas não foi fácil. Ele costumava dizer (com certa ambiguidade) que Aldous Huxley era tão reprimido intelectualmente que só conseguia fazer sexo na cabeça. (Antes de irromper numa risadinha marota, lembre-se que isso foi em 1928.)
Oh, os encantos do amor na praia!
Oh, os prazeres de um caso escondido num apartamento com ar-condicionado na cidade!
Rojões! Suor e beijos! Aquele chimpanzé na praia! Beba cola, tome mais chope!
Uma nação vive seus melhores momentos. O verão chegou!
Chimpanzé
O chimpanzé daquele comercial de refrigerante à base de cola, na televisão, sabe bem mais sobre sexo do que a gente imagina.
Seres humanos e chimpanzés têm muito mais em comum do que pensávamos. Ou, para expressar a coisa de modo mais darwiniano, talvez nós, humanos, tenhamos aprendido alguns de nossos macetes sexuais com os chimpanzés.
E talvez a Pepsi-Cola tenha feito sua lição de casa direitinho.
Pesquisadores acabam de descobrir que os chimpanzés, como nós humanos, têm um sistema no qual a troca de favores sexuais por objetos valorizados é comum e corriqueira.
Preste atenção, Joãozinho: os pesquisadores têm muita coisa a nos contar sobre os chimpanzés, coisas essas que por sua vez nos dirão algo sobre nós mesmos. Também nos dirão algo sobre aquela gracinha em quem você anda de olho.
Parece que os chimpanzés caçam para "financiar" suas aventuras sexuais. Os chimpanzés machos seduzem suas amiguinhas com um prato que elas adoram: a carne de um macaco vermelho morto. Eles só deixam a chimpanzé fêmea comer depois que ela se submete à relação sexual.
Embora as chimpanzés fêmeas costumem ser promíscuas com ou sem a tal carne, a chantagem permite que o macho tenha mais relações sexuais.
A chimpanzé fêmea copula com mais de 12 machos por dia. A carne representa a diferença entre fazer muito sexo e fazer muito mais sexo ainda.
Assim como nós, humanos, ficamos quentes e elétricos durante os meses eróticos do verão, os chimpanzés também -é no verão que fazem suas trocas de carne por sexo. Que surpresa! É nessa época do ano que a chimpanzé fêmea se mostra mais receptiva.
DataZingg
Número de relações sexuais que acontecem diariamente no mundo: 100 milhões.
Porcentagem de homens que já saíram com uma prostituta pelo menos uma vez na vida: 33.
Número médio de pessoas que fazem cirurgia de troca de sexo por ano nos EUA: 225.
Porcentagem de casos extraconjugais vividos com amigo ou amiga do cônjuge: 15.
Comprimento médio do pênis ereto, segundo as mulheres: 10 centímetros.
Definição feminista de homem: organismo que põe seu lixo na rua.
Número de gametas (células sexuais) com os quais nasce a mulher: vários milhões.
Número de gametas que entram em jogo durante a vida da mulher, em média: 400.
Barbie - pisei na bola!
Tio Dave deu uma bola fora semana passada, quando disse que existem oito milhões de Barbies nesse mundo injusto. Achei que teria sido um ótimo tema de conversa para FHC durante sua visita à Índia. (Repetindo: 800 milhões de Barbies. A população total da Índia é de cerca de 900 milhões de pessoas.) Desculpe, Barbie.

Tradução de Clara Allain

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