São Paulo, quinta-feira, 1 de fevereiro de 1996
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Comunistas vão a 'festa' capitalista

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

Se o comunismo foi batido pelo capitalismo, os neocomunistas cuidam de seu futuro invadindo a mais seleta praia capitalista, o Fórum Econômico Mundial, cuja 26ª edição se abre hoje na cidadezinha suíça de Davos.
Já confirmou presença Guennadi Ziuganov, o líder do Partido Comunista da Rússia, cuja vitória na eleição parlamentar de dezembro o transformou na nova sensação do país.
Vai estar cercado por aproximadamente mil empresários do mais grosso calibre, sem contar chefes de Estado ou de governo de perto de 30 países.
Ziuganov é tido como candidato forte à eleição presidencial de junho e é natural que queira tranquilizar o mundo empresarial e político quanto ao rumo das reformas em seu país, no caso de repetir, na presidencial, o desempenho do pleito parlamentar.
É sintomático que o líder do PC seja a vedete de Davos-96. Nos quatro anos anteriores, ou seja, desde que começou a demolição do comunismo, quem brilhava eram os reformistas liberais.
Por Davos, passaram Boris Fiodorov, considerado o mais radical dos reformistas, demitido em 93 pelo presidente Boris Ieltsin. Passou também, em todos os últimos quatro anos, Anatoli Tchubais, primeiro como ministro da Privatização e, no ano passado, como vice-primeiro-ministro.
Tchubais caiu no início deste ano, o último dos reformistas a abandonar o barco de Ielstin.
No lugar deles, estão os recalcitrantes, mais próximos do comunismo do que do reformismo. Exemplo: Oleg Soskovets, o vice-primeiro-ministro encarregado da economia.
Para Soskovets, "muitos erros foram cometidos durante o processo de reforma, causados pelas tentativas de muitos líderes de mimetizar as práticas da economia de mercado de outros países, sem levar em conta as características específicas da Rússia".
É natural que o mundo empresarial esteja incomodado com o que parece uma recaída no estatismo e queira, por isso, ouvir Ziuganov, para sondar até que ponto vai o apreço dos neocomunistas pelo mercado.
Para o líder do novo Partido Comunista, é igualmente importante tranquilizá-los. Mesmo que queira desmontar muito do que já foi feito rumo ao capitalismo, depende da comunidade internacional para evitar uma turbulência violenta, no caso de se eleger.
É por idêntica razão que arautos remanescentes do comunismo puro e duro também confirmaram presença em Davos.
Entre eles está o presidente da Comissão de Assuntos Econômicos Externos da Coréia do Norte, Li Sung-dae. É a primeira vez que um alto funcionário desse "bunker" comunista vem a Davos.
Os cubanos também enviam um funcionário de alto nível, José Luís Rodriguez García, seu ministro de Economia e Planejamento. Mas, no caso de Cuba, no ano passado já viera o ministro Carlos Lage.
Sua explicação de então vale para hoje e para seus camaradas de outros países: "No mundo de hoje, nenhuma economia pode permanecer isolada".
Outro ilustre ex-comunista, o presidente polonês Aleksander Kwasniewski, virá igualmente a Davos para tranquilizar o mundo capitalista.
Afinal, o primeiro-ministro Jozef Oleksy foi forçado a renunciar na semana passada, sob a acusação de ter sido espião da KGB, o serviço secreto da então União Soviética.
Não é uma situação confortável para um governo que já solicitou o ingresso tanto na Otan (a aliança militar ocidental, liderada pelos Estados Unidos) como na União Européia.

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