São Paulo, sexta-feira, 2 de fevereiro de 1996
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'Não adianta invadir prédios'

HELCIO ZOLINI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente interino do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), Raul do Valle, criticou ontem o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) por insistir com as ocupações e disse que não irá negociar com "a faca no pescoço".
"Não adianta o MST continuar com essa postura inadequada que ele vem adotando em nível nacional, de invadir prédios públicos e fazendas. Com a faca no pescoço eu não negocio", afirmou.
Valle disse à Folha que o diálogo é o caminho adequado para a solução dos problemas no campo. Segundo ele, os conflitos têm de ser resolvidos na base da conversa e não pelo caminho da violência.
"A radicalização, o confronto -não levam a nada. Se quiserem substituir o diálogo pela confrontação, isso só servirá para tumultuar e atrasar o processo da reforma agrária. Vai ser ruim para todo mundo", disse.
Valle afirmou ainda que o MST precisa desarmar o espírito e verificar o esforço que, segundo ele, o governo Fernando Henrique Cardoso vem fazendo para implementar a reforma agrária.
"Nos acusam de lentidão. Mas que lentidão é essa, se no ano passado tínhamos um compromisso para assentar 40 mil famílias e acabamos assentando 42.902, um recorde absoluto? Nunca se assentou tantas famílias no país", disse.
Valle afirmou também que o Incra está interessado em ajudar o governo de São Paulo a resolver o problema criado no Pontal do Paranapanema (SP), onde o governador Mário Covas (PSDB) prometeu assentar 2.100 famílias na região até o final do primeiro semestre deste ano.
"Vamos ver o que podemos fazer", disse Valle, que pretende ir a São Paulo na próxima segunda-feira para discutir o assunto com o secretário estadual de Justiça, Belisário dos Santos Júnior.
Uma das idéias que o Incra está estudando é colaborar com recursos. As verbas seriam empregadas no pagamento das indenizações das benfeitorias das fazendas, que seriam repassadas aos sem-terra.

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