São Paulo, sexta-feira, 2 de fevereiro de 1996
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'Repeteco' ofusca bela filmagem da Copa de 94

DA REDAÇÃO

Estréia hoje em São Paulo "Todos os Corações do Mundo", o filme oficial da Copa do Mundo dos EUA de futebol. A direção é do brasileiro Murilo Salles.
Com o apoio da Fifa (máximo órgão do esporte), pela primeira vez foram filmados todos os jogos de uma Copa, além de treinos e das torcidas.
Apesar da expectativa criada pelo intervalo de um ano e meio -entre a final do Mundial e o lançamento nos cinemas-, o documentário tem pouco de inédito.
As imagens são bonitas. Sem a preocupação de "transmitir" os jogos, o filme se concentra na plasticidade, no bailado dos movimentos dos atletas.
Mas sofre com as limitações de orçamento do cinema.
Em toda a produção, "Todos os Corações do Mundo" usou 22 câmeras. Só a volta ao Brasil da seleção tetracampeã, por exemplo, foi registrada por 42 câmeras pela TV Bandeirantes.
Assim, o filme fica atrás das transmissões de TV em informação visual. E, por vezes, foi obrigado a pedir imagens emprestadas.
Para não fazer uma obra apenas com belas imagens de partidas, fugindo às comparações com o Canal 100 (documentário celebrizado nas décadas de 60 a 80), Salles optou por privilegiar um outro protagonista do futebol: o público.
Há cenas de torcidas nos estádios nos EUA e em alguns dos países que participaram da Copa.
Mas a maior parte das sequências com os fãs lembra muito as reportagens pelas TVs.
São torcedores fantasiados gritando palavras de ordem, palhaçadas na frente da câmera, a decantada certeza da vitória etc. Ou, então, a análise óbvia, que todos já ouviram e conhecem.
Poucas vezes o filme ultrapassa a superficialidade televisiva para mostrar algo novo -não necessariamente uma imagem, mas uma idéia ou uma emoção.
Um gol: um italiano diz que a Itália precisa ser provocada, precisa sentir vergonha de si para reagir. É curioso, é polêmico, completa e transcende o futebol.
Mesmo assim, "Todos os Corações do Mundo" conseguirá emocionar o público brasileiro.
Trata-se, afinal, de uma história conhecida, mas com dois finais diferentes: um triste, para quem viu sua seleção derrotada; outro alegre, para quem torcia pelo Brasil.
E quem venceu dificilmente se cansa de rever as cenas da vitória. É só lembrar as frequentes reprises da Copa de 70 (tricampeonato).
Ainda mais numa época em que há consumidor para qualquer imagem de futebol, de qualquer país, a qualquer hora do dia e da noite.
Não é à toa que 120 partidas do Campeonato Paulista serão transmitidas ao vivo.

LEIA
a programação do filme no circuito à pág. 5-4

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