São Paulo, domingo, 4 de fevereiro de 1996
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Grupo inglês quer investir mais no Brasil

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

O grupo financeiro britânico Flemings quer triplicar os investimentos estrangeiros sob sua administração no mercado de ações brasileiro do nível atual de US$ 700 milhões para US$ 2,1 bilhões até o ano 2000.
Com esse objetivo, o grupo Flemings, que atua nas Bolsas brasileiras desde 1990, começou a montar, há pouco menos de seis meses, sua primeira filial brasileira, em São Paulo.
Formado em Letras Clássicas pela Universidade de Oxford, Nicholas Hurd, 33, filho do ex-chanceler britânico, Douglas Hurd, é diretor-executivo do grupo Flemings no Brasil.
Em entrevista à Folha, Nicholas Hurd se disse "contente" com a decisão de trazer para o Brasil os negócios do segundo maior grupo financeiro britânico: "Estamos no lugar certo na hora certa. O país fez muito progresso recentemente."
Hurd diz que a estratégia do grupo Flemings para alcançar a meta de triplicar sua carteira de investimentos estrangeiros no Brasil, atraindo US$ 350 milhões, por ano, até o ano 2000, está apoiada em três pontos:
1) aumento da captação de recursos de investidores institucionais estrangeiros para aplicação em ações de empresas brasileiras; 2) lançamento de novos produtos financeiros, tais como fundos de investimento e de complementação de aposentadoria; e 3) atração de capital de risco estrangeiro para fusões e aquisições, participações acionárias e privatização.
Hurd espera repetir no Brasil, a longo prazo, o sucesso da Flemings na Ásia. O grupo tem o maior banco de investimentos da região, o Jardine Fleming, em Hong Kong, que administra recursos de terceiros no valor de US$ 35 bilhões, aplicados em 35 fundos de investimentos nos mercados de capitais asiáticos.
O grupo Flemings é administrador de uma carteira internacional de investimentos de US$ 80 bilhões.
No Brasil, Hurd vê como uma das áreas de maior potencial para a expansão dos negócios do grupo Flemings a de fundos de pensão ou de aposentadoria complementar. Ele busca um sócio brasileiro para entrar nesse mercado.
"Os planos de aposentadoria privada vão crescer muito no Brasil e esperamos trazer boa parte dos recursos dos fundos de pensão britânicos para cá", diz.
Enquanto faz planos para o futuro, Hurd comemora a conquista do primeiro cliente no país: o governo brasileiro.
O grupo Flemings integra o consórcio escolhido para o "serviço A" de avaliação no processo de privatização da CVRD (Companhia Vale do Rio Doce). O consórcio é liderado pela Metaldata, com a participação também das instituições financeiras Maxima e Salomon Brothers.
Hurd diz que a participação na desestatização da Vale será um "cartão de visitas" da ampla experiência do grupo Flemings em privatizações, adquirida nos últimos 17 anos do processo de desestatização no Reino Unido.
"Estamos interessados na privatização do setor de telecomunicações, mas não esperamos que isso aconteça antes de 1997", diz.
Hurd afirma que é um "otimista moderado" em relação ao Plano Real. Ele diz que será um otimista sem qualificações quando o governo concluir a reforma fiscal.
Hurd prevê para a economia brasileira em 1996 um crescimento entre 3% e 4% e inflação caindo gradualmente para 15%, um cenário, diz, que permitirá um bom desempenho para as empresas privadas no país.
Mas, diz, a medida do sucesso do Plano Real será dada pelos investimentos estrangeiros diretos no país (capital aplicado na expansão da produção e não no mercado financeiro).
"O investimento externo no Brasil, estimado em US$ 5 bilhões este ano, ainda é muito pequeno em comparação com vizinhos com o Chile ou com a China, que recebe quatro vezes mais do que isso", afirma.

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