São Paulo, segunda-feira, 5 de fevereiro de 1996
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Argumentos são ideológicos, diz superintendente da obra

DA REPORTAGEM LOCAL

O engenheiro da Petrobrás Antonio Menezes, superintendente do gasoduto Brasil-Bolívia, considera mais ideológicos do que técnicos os argumentos contrários ao projeto.
"O First Boston, um banco respeitado e com bom currículo, fez um trabalho para o governo Collor e por isso está sendo criticado", diz.
Segundo Menezes, o processo de seleção do banco como assessor técnico-financeiro já foi auditado pelo TCU (Tribunal de Contas da União).
Ele concorda em que o projeto do gasoduto, por sua dimensão, apresenta muitas dificuldades. "Mas os riscos são baixos, e a Petrobrás vem correndo riscos, com sucesso, há 40 anos. É a 15ª empresa do mundo."
O superintendente do gasoduto admite que as estimativas de reservas de gás fornecidas pela Bolívia eram incompletas. "Eles estavam no papel deles ao oferecer para nós um negócio em que o risco parecesse menor."
A Petrobrás, segundo Menezes, tem avaliações próprias. "Desde 1991 temos gente trabalhando em cima das reservas. Embora a Bolívia seja nossa parceira, os dados que temos foram levantados por nós."
O engenheiro não duvida de que, embora a demanda brasileira de gás seja pequena hoje, ela crescerá tão logo o produto esteja disponível no mercado. Ele afirma que a Petrobrás fez estudos que comprovam o "enorme" potencial do mercado brasileiro.
O gás encontrado no Brasil, segundo Menezes, oferece piores condições de exploração por ser associado ao petróleo, isto é, aparecer junto com o óleo.
"Esses campos não asseguram a exploração estável a longo prazo. Além disso, parte do gás tem de ser reinjetada para permitir a extração do petróleo", afirma.
A cláusula "take or pay" (pegue ou pague), pela qual o Brasil terá de pagar pelo produto mesmo sem consumi-lo, "é cláusula-padrão em qualquer lugar do mundo", de acordo com Menezes.
"É um compromisso de sociedade, que dá aos parceiros a certeza de que o negócio é bom para os dois lados."
Sobre o preço de venda do gás boliviano, o engenheiro afirma que está "nos níveis internacionais". O aumento de US$ 0,90 para US$ 1,00 por milhão de BTU, negociado com a Bolívia, foi compensado, segundo ele, por "vantagens operacionais" e pela redução de 65% para 60% e de 85% para 80% dos percentuais de volume de gás que o Brasil seria obrigado a comprar pela cláusula "take or pay".
O superintendente do gasoduto diz que o armazenamento do gás em tanques é feito em países como França e Estados Unidos para responder às flutuações da demanda (horários de pico, inverno, férias). "Teremos gás armazenado na Bolívia para garantir o fluxo de abastecimento."
Menezes afirma que o projeto alternativo da Aepet, de transporte de gás liquefeito por ferrovia, seria a opção mais cara para o consumidor, além de mais arriscada. "Depois do gasoduto, a melhor opção seria o transporte por navio."
O diâmetro do gasoduto, aumentado de 28 polegadas para 32, trouxe vantagens operacionais, na opinião de Menezes.
"Poderemos fazer menos estações compressoras. As flutuações típicas de um mercado em implantação são melhor absorvidas por um gasoduto com diâmetro maior", avalia.
O engenheiro afirma que a expansão gradual da estrutura de fornecimento de gás só foi possível em países onde o governo subsidiou essa operação. "O gasoduto Brasil-Bolívia não será subsidiado pelo governo."
Menezes acha que tem fundamento a preocupação de que atritos políticos entre o Peru (fornecedor em potencial de gás para o Brasil) e a Bolívia possam acabar afetando a utilização do gasoduto.
"Mas o que vemos sempre, em experiências em outros países, como no caso do gasoduto que transporta gás da União Soviética para a Europa, é que os interesses comerciais prevalecem. A Bolívia já se comprometeu a não cobrar pedágio pela passagem do gás peruano no gasoduto."
A Bolívia, segundo Menezes, tem dado provas de ser uma parceira confiável. "Em 20 anos de fornecimento de gás para a Argentina, nunca houve problema."

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