São Paulo, segunda-feira, 5 de fevereiro de 1996
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Mercado de máquinas ignora início de colheita

ARTHUR PEREIRA FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Entre abril e dezembro do ano passado, os fabricantes de máquinas agrícolas venderam apenas 201 colheitadeiras no mercado interno, 92% menos do que no mesmo período de 94, quando foram negociadas 2.506 unidades.
Apesar do início da colheita da safra 95/96 nas próximas semanas, as vendas continuaram praticamente paradas em janeiro.
"Não vendemos quase nada. Devemos repetir o resultado de dezembro", afirma Pérsio Pastre, vice-presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores). Os números oficiais serão divulgados amanhã pela entidade.
Em dezembro, foram negociadas apenas 23 colheitadeiras. Para dar uma idéia da paralisação dos negócios, basta lembrar o número de colheitadeiras vendidas em janeiros anteriores: 442 em 95, e 500 em 94.
O primeiro trimestre é o "período de pico" da venda de colheitadeiras, afirma Pastre, o que torna o fraco desempenho deste início do ano ainda mais "preocupante". Apesar disso, ele ainda confia em uma recuperação a partir de fevereiro.
Queda geral
A queda de vendas atinge todo o setor de máquinas agrícolas e não apenas as colheitadeiras. A indústria vendeu 73% menos tratores de rodas de abril a dezembro de 95, em comparação com o mesmo período de 94.
No total, as vendas de máquinas agrícolas caíram 51,2%, de 94 para 95.
O mau desempenho da indústria foi consequência da descapitalização do setor agrícola, a partir de abril do ano passado.
O descasamento entre a correção da dívida dos agricultores nos bancos e o valor recebido pelos produtos agrícolas provocou inadimplência e adiamento de novos investimentos, entre eles, compra de novas máquinas.
A crise se arrastou até novembro, quando o governo definiu regras para o pagamento dos débitos.
O programa prevê a renegociação das dívidas de até R$ 200 mil, com pagamento em até dez anos. A primeira parcela vence apenas em outubro deste ano.
Pastre diz que as condições oferecidas são "boas", mas ainda não foram implementadas.
"O agricultor ainda não foi ao Banco do Brasil repactuar a dívida. Enquanto isso não ocorrer, ele fica sem saber como vai pagar o que deve e não assume novos compromissos".
Outra expectativa
Se para o mercado de colheitadeiras o tempo para uma recuperação é curto -o período de colheita termina no início de abril-, para os tratores a expectativa é melhor. Segundo Pastre, até março a renegociação das dívidas será completada e os agricultores devem voltar a investir.
O aumento dos preços agrícolas também ajuda. Em relação a março do ano passado, afirma Pastre, os preços subiram entre 15% e 20% em média. Alguns produtos, como soja, tiveram alta de 40%.
Ele também prevê um aumento da produção de trigo, por causa da elevação da cotação do produto no mercado internacional. "Além disso, a demanda reprimida na área de tratores é muito forte", diz.
Os tratores representam cerca de 80% das vendas de máquinas agrícolas.
Pastre prevê mesmo uma antecipação de compra este ano. "A compra de tratores, que normalmente é concentrada nos meses de maio e junho, pode ser antecipada para abril e maio", diz.

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