São Paulo, segunda-feira, 5 de fevereiro de 1996
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Bancos reclamam, mas mantêm lucros

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Os banqueiros brasileiros viveram um ano dos mais difíceis em 1995, acossados por um medo de quebradeira geral, pela inadimplência dos clientes e por uma parafernália de depósitos compulsórios junto ao Banco Central.
Parecia que o mundo da banca nacional iria desabar, tamanha foi a choradeira dos donos e executivos dos bancos.
Só que, mais uma vez, as lágrimas eram de crocodilo.
O setor ficou de pé, com as quebras atingindo somente dois grandes bancos, Econômico e Nacional, rapidamente cobertos com recursos do Proer (programa oficial de apoio às fusões bancárias).
E a inadimplência não chegou a comprometer o resultado das instituições.
Os balanços publicados por alguns bancos nas últimas semanas mostram que eles mantiveram no ano passado uma rentabilidade elevada, embora um pouco menor que a do ano anterior.
Os lucros de um grupo de 14 bancos (entre os quais Bradesco, Mercantil de São Paulo e Noroeste) ficaram em R$$ 994,2 milhões em 1995, contra US$ 1 bilhão em 1994.
A rentabilidade patrimonial desse grupo ficou em 12,62% em 1995, segundo levantamento da consultoria Austin Asis.
Foi um retorno abaixo dos 14,87% obtido pelos mesmos bancos no exercício anterior, mas praticamente empata com a média do setor em 1994, de 12,7%, e supera a de 1993, de 12,2%.
Para quem não se lembra, na última crise bancária, provocada pelo Plano Collor, a lucratividade do setor despencou da média histórica de 12% ao ano para 10,4% em 1990 e 5,1% em 1991.
No ano passado, a sorte dos banqueiros foi bem outra.
O Bradesco, maior banco privado do país, fechou 1995 com um lucro de R$ 540 milhões, equivalente a uma rentabilidade de 11,15% sobre o patrimônio -somente um ponto percentual menor que a do ano anterior.
O Banco Noroeste, por sua vez, esbanjou uma rentabilidade de 27,74% (contra 32,04% em 1994), com lucro de R$ 105,5 milhões.
O atacadista BBA-Creditanstalt, um dos mais bem-sucedidos do setor, lucrou R$ 80 milhões líquidos, com retorno de 25% sobre o patrimônio.
"O ano foi difícil, mas conseguimos manter um bom resultado", diz o presidente do Bradesco, Lázaro de Mello Brandão.,
Brandão dá a receita do sucesso em meio à crise: aumento na cobrança de tarifas bancárias, no volume de empréstimos e manutenção dos investimentos em tecnologia (informática e telecomunicações), essenciais para se reduzir custos fixos.
O Bradesco obteve uma receita de cerca de R$ 1 bilhão com a cobrança de tarifas sobre serviços em 1995, num crescimento real (além da inflação) de 41% sobre o volume arrecadado em 1994.
"Acabaram os lucros indiretos com a inflação, por isso precisamos cobrar de maneira mais transparente pelos serviços que prestamos", explica Brandão.
Para se ter uma idéia da importância dessa receita, basta compará-la com as novas provisões que o banco fez para se precaver de calotes em créditos de liquidação duvidosa (60 dias ou mais de atrasos): R$ 976,7 milhões.
"Fomos bem conservadores, provisionamos mais de uma vez e meia o valor dos créditos que tínhamos em liquidação", disse Brandão.
No total, as provisões terminaram o ano em R$ 1,4 bilhão, 246% acima do saldo no ano anterior. Fica a pergunta: que empresa de outro setor aguenta um tranco de R$ 1,4 bilhão em seus resultados e ainda fecha com uma rentabilidade somente 8% menor?
Para 1996, os bancos não esperam um ano fácil. A demanda por empréstimos não deve ser das melhores no primeiro semestre e o processo de consolidação do sistema -com novas fusões e aquisições- deve continuar.
"Vamos fazer das tripas coração para manter os resultados", promete Brandão.

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