São Paulo, segunda-feira, 5 de fevereiro de 1996
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Opiniões alheias

HELCIO EMERICH

Segundo um recente relatório da pesquisa Monitor, realizada periodicamente pelo conhecido Instituto Yankelovitch, dos EUA, aos seis anos de idade um americano já foi exposto a 100 mil comerciais de TV. Ao completar 18 anos, ele terá visto 350 mil comerciais e pelo menos um milhão de anúncios em mídia impressa. E na faixa dos 40, sua "cultura" publicitária acumulará um milhão de comerciais e quatro milhões de anúncios impressos.
Isso pode dar a impressão de que o consumidor americano está cada vez mais atento à propaganda, para não dizer empolgado com ela. Mas outro estudo da mesma Yankelovitch prova que o índice geral de credibilidade das campanhas caiu de 60% em 1985 para 36% em 1995 (por categorias, a queda mais acachapante foi a da publicidade bancária, de 42% para 20%). Pior: cerca de 30% dos cidadãos entrevistados nessa pesquisa declararam já terem sido "vitimados" por fraudes ou apelos enganosos da propaganda.
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Como reagiriam os publicitários americanos se o prefeito de Nova York convidasse um profissional brasileiro para criar uma campanha destinada a incrementar o turismo na Big Apple? Pois César Maia, o alcaide do Rio, mandou buscar nos EUA o medalhão Jerry Della Femina para promover a cidade maravilhosa no exterior.
Jerry andou deitando falação nos jornais. Veja algumas das preciosidades que ele nos legou, em entrevista ao caderno de Propaganda & Marketing da "Folha da Tarde": "O investimento em indústrias é o que gera empregos para satisfazer as necessidades da população. Eu comprei um sapato em uma grande loja carioca. Isso significa que alguém o fez e o comercializou".
"Nunca associei o Rio a crianças. As crianças são lindas, brincam e se divertem com muita espontaneidade".
"O turismo cresce em todo o mundo. As pessoas sentem desejo de viajar, conhecer outros lugares, intercambiar informações".
"O marketing só não pode mudar a realidade de um país. Isso só com a injeção de recursos na economia". Della Femina, o profeta do óbvio.
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Notícia também publicada em jornal da capital nos dá conta que o professor holandês João Luiz Van Tilburg, "doutor em Comunicação com especialização em TV" estudou mais de 3.000 cartas que telespectadores de novelas da Globo mandaram para os artistas da emissora. "Revelações curiosas e, em certos casos espantosas foram encontradas nas cartas", informa a redatora da matéria.
Alguns exemplos: 95% dos remetentes escreveram corretamente o endereço, de acordo com as normas dos correios.
A maioria não escreve em papel de carta, mas em páginas destacadas de cadernos espirais. Os erros de português são constantes em quase todas as cartas.
Diante da superlativa utilidade sociológica e cultural dessa pesquisa, cabe perguntar (como se faz lá em Minas) aos seus idealizadores: que tal pegar em um guatambu, também conhecido como cabo de enxada? A lavoura brasileira anda precisando de braços.

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