São Paulo, segunda-feira, 5 de fevereiro de 1996
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Transmissão de futebol deixa a desejar

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

O futebol está em alta. Diante do desmonte de sua equipe de jornalismo, a Record investe para se tornar "a nova força do esporte". A Bandeirantes deixa um pouco dos outros esportes para se concentrar no futebol. Edmundo esteve no "Roda Viva". A Globo lança mão do futebol para fazer frente à concorrência. O horário nobre está tomado pela bola. Mas, se quiser conquistar um público leigo, a televisão tem muito que incrementar nas transmissões futebolísticas.
Há quem diga que futebol é a melhor coisa que a televisão tem a oferecer. Mas quem assiste aos lances do clássico "Canal 100", exibidos diariamente pela Manchete às 20h30, ou quem for ao cinema ver o recém-lançado "Todos os Corações do Mundo", sentirá imediatamente a superioridade da película sobre o vídeo quando se trata de transmitir as emoções do maior esporte nacional.
Quando o jogo é fraco e se define logo nos primeiros momentos, como foi o caso de Palmeiras e Novo Horizontino na última quinta-feira, a pobreza da linguagem fica ainda mais acentuada.
As emissoras aumentam os horários dedicados ao futebol, mas investem pouco em aprimorar as transmissões. Utilizando muita câmera aberta, os fotógrafos se esforçam por captar a maior extensão possível do gramado, de forma que o telespectador possa situar e entender cada jogada em sua complexidade. Ganham em abrangência. O resultado porém é uma transmissão fria. É difícil discernir cada jogador em campo. Não vemos nem ouvimos a torcida.
Há um descolamento entre o que se vê e o que se ouve. A imagem é quase que um pano de fundo sobre o qual se sobrepõe a conversa -no mais das vezes fiada- dos locutores. Pouco se descreve do jogo. Pouco se acrescenta ao que vemos. Ficamos sabendo das muitas próximas atrações da emissora. Raul Gil está em novo horário na Record.
É comum um mesmo jogo estar sendo transmitido simultaneamente por mais de um canal. As imagens -produzidas por um pool- são exatamente as mesmas. Às vezes nem as equipes de comentaristas se diferenciam muito. Luciano do Vale da Bandeirantes estende seus tentáculos à Record.
Já no cinema acompanhamos a emoção nos rostos e nos corpos em movimento. Somos contagiados pela vibração que une torcedores e atletas. Somos capazes de entender que "o futebol é a razão de viver dos italianos".
O documentário da Copa é bem-realizado. Admiramos a leveza dos pés de Romário. Ouvimos o estampido da bola no pé. Percebemos a tensão de cada partida nas inúmeras unhas roídas pela torcida. Sentimos um pouco da força do futebol nos recados nas praças públicas européias (faltaram imagens africanas e asiáticas) onde as pessoas torciam por seus países. É verdade que o foco nem sempre é perfeito.
Mas o formato do documentário produzido pela FIFA é bastante convencional. Se a idéia é fazer do futebol um espetáculo, o "Canal 100" de Carlos Niemeyer, com suas sequências saturadas de músculos em movimento, suor e garra, certamente permanece sendo o referencial.

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