São Paulo, segunda-feira, 5 de fevereiro de 1996
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Mito do cinema substitui o de Robin Hood

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

É inevitável a comparação entre o inédito "Robin Hood" de Kevin Reynolds (Globo, 21h45) e a versão clássica dos anos 30, feita por Michael Curtiz.
A esta se deve, em grande parte, a mitologia contemporânea do herói medieval: o herói irretocável, que rouba os ricos para dar aos pobres, que combate as arbitrariedades do príncipe João, enquanto a Inglaterra espera o retorno do rei Ricardo Coração de Leão, das Cruzadas, fixou-se na imagem de Erroll Flynn.
Na nova versão, o ator é a caráter para encarnar Robin: ninguém melhor do que Kevin Costner representa a virtude no cinema contemporâneo.
O novo Robin padece, porém, de um cruzamento de dados que não se combinam. Ao mesmo tempo, Kevin Reynolds trabalha uma imagem áspera de Robin Hood, seus companheiros, sua época. Sem que destrua o mito, digamos que o filme provoca nele um certo desgaste.
Ao mesmo tempo, há uma sucessão de planos que se pode designar como "espetaculares" ou "gratuitos" -à vontade do freguês.
O que rouba em essência mítica da personagem, o filme devolve como imagem. De certa forma, Reynolds substitui a mítica de Robin Hood pela do cinema. Aqui, não é o cinema que existe para contar as aventuras de Robin.
É Robin, ao contrário, que está lá para ser matéria-prima do cinema. Em vez de ser o espetáculo, o personagem é seu instrumento.
Essa transformação aspira à modernidade, sem dúvida. É mais duvidoso que chegue a ela. Entre a pretensão e a realização existe um abismo: é justamente ao pretender impor a autonomia do cinema como arte que Reynolds confinou seu filme na categoria das diversões simpáticas, mas limitadas.

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