São Paulo, segunda-feira, 5 de fevereiro de 1996 |
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À luz de velas
VAGUINALDO MARINHEIRO SÃO PAULO - Começa hoje em Nova York uma reunião entre urbanistas de 185 países que vão tentar evitar que o caos se instale ou piore nas grandes cidades no próximo século.Se a reunião fosse realizada em São Paulo, a maior cidade brasileira, haveria o risco de ela ser feita à luz de velas. Próximo da virada do século, quando São Paulo deve ter 22 milhões de habitantes, quase todos os dias os moradores de pelo menos uma região da cidade são obrigados a viver como no século passado, quando Thomas Edison ainda não havia inventado a lâmpada elétrica. No mês passado, eram 240 mil pessoas em média que ficavam às escuras por dia. No dia do aniversário da cidade, 25 de janeiro, foi registrado o recorde: 1,5 milhão ficou sem energia. E fevereiro parece ir pelo mesmo caminho. A Eletropaulo culpa a chuva e os ventos, mas admite que faltou investimentos na melhoria dos serviços. Falta, na verdade, respeito pelo consumidor. Como muitas estatais que não sofrem concorrência, a Eletropaulo deixou de lado serviços básicos. Segundo a própria empresa, 80% das interrupções de energia deste ano foram causadas pela queda de árvores, que arrebentam as fiações. E a empresa também tem culpa nessas quedas. No ano passado, a Eletropaulo podou apenas 50 mil árvores. Este ano, depois dos transtornos, o presidente da empresa promete tosar 1 milhão. Mas deve esquecer a promessa quando secarem as águas da última chuva da temporada. A solução para o problema de interrupção do fornecimento de energia elétrica em São Paulo está muito mais próxima do Morumbi (onde fica a sede do governo estadual) do que dos especialistas de Nova York. A solução é privatização já, como querem alguns urbanistas que vão estar em Nova York e que acreditam que todos os serviços públicos devem ser privatizados. Enquanto isso não é feito, pouco ajuda ligar no escuro para o telefone 196. Se você tiver muita sorte e não pegar a linha ocupada, vai ouvir a seguinte mensagem: "Bem-vindo ao sistema de atendimento de emergência de Eletropaulo. No momento, devido às fortes chuvas, nossos postos de atendimento estão ocupados. Favor aguardar na linha que logo iremos atendê-lo." Como castigo extra, a empresa deixa você esperando ao som de músicas tocadas por Richard Clayderman. Texto Anterior: Novo fenômeno Próximo Texto: O mal menor Índice |
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