São Paulo, terça-feira, 6 de fevereiro de 1996
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Produção de escargot entra em crise

VALMIR DENARDIN
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SOROCABA

Os produtores de escargot estão enfrentando dificuldades para consolidar a atividade no Brasil. Alguns estão reduzindo as criações e outros abandonaram a atividade.
Há dificuldades para vender a carne do animal, o que provoca um encalhe da produção. Segundo os criadores, a situação tem duas causas principais: falta de hábito do brasileiro em consumir escargot e a inexistência de legislação específica que regulamente a criação, o abate, a embalagem e a venda do molusco.
Elisabeth Venturelli, 32, de Brusque (SC), desistiu de criar escargot no final de 95, após ter investido na construção de um barracão para abrigar as matrizes e tentar o negócio por três anos.
"Tive muita dificuldade para vender. Mesmo quando encontrava compradores, eles só queriam os maiores", afirmou.
Elizabeth criava as duas espécies mais comuns no Brasil: "gros gris" (de origem francesa) e "achatina" (a espécie mais resistente). Segundo ela, o gros gris tinha mais saída, mas apresentava um alto índice de mortalidade.
Outra produtora que abandonou a atividade, dois anos depois de ter iniciado a criação, foi Leda Hohl, de Rio do Sul (SC). "Não há mercado em Santa Catarina. Tentei vender pratos de escargot já prontos, mas não consegui autorização do Ministério da Agricultura", afirmou.
Por falta de mercado, o criador Elói Gasparin, 24, de Matelândia (PR), decidiu reduzir o número de matrizes. "Eu produzia 20 quilos por mês, mas só conseguia vender no máximo dez quilos mensais."
Na opinião de Ferenc Polena, 64, presidente da Helipar (Associação de Helicicultores do Paraná), entidade que reúne 700 criadores, o maior problema é a falta de abatedouros que congelem ou industrializem o molusco.
"Como vamos colocar a produção no mercado se não podemos abrir abatedouros?", pergunta. Segundo ele, a burocracia impede a montagem desses abatedouros. "Se a situação não for resolvida, a helicicultura vai entrar em colapso no Brasil", disse.
Para Carlos Alberto Funcia, 52, fundador da Associação Brasileira de Criadores de Escargot (hoje inativa), o problema é menos de lei e mais de criatividade e adaptação dos produtores.
"O escargot é uma atividade nova no Brasil. Ainda precisamos torná-lo mais presente nos cardápios", afirmou.
A criação de escargot no Brasil foi iniciada há cerca de dez anos. Não há dados oficiais, mas, de acordo com estimativa da Sociedade Rural Brasileira, há hoje no país cerca de 2.500 criadores, que produzem 20 t anuais de carne.
O preço da carne do molusco é outro fator que dificulta a venda em grande escala. Um quilo congelado custa cerca de R$ 30.
Mesmo em locais onde o consumo de escargot é hábito, o produto nacional enfrenta barreiras. O restaurante Le Coq Hardy, em São Paulo, prefere servir o molusco enlatado, importado da França.
Ronaldo Fritz, gerente do restaurante, diz que o escargot importado, mesmo enlatado, é de melhor qualidade e mais prático.

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