São Paulo, terça-feira, 6 de fevereiro de 1996
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A força do tráfico

Um diretor do FBI afirmou no Fórum de Davos (Suíça) que um único cartel de drogas sul-americano lucrou no ano passsado US$ 7 bilhões. Para efeitos de comparação, o lucro da gigante IBM em 94 foi de US$ 2,9 bilhões, menos da metade.
Os números globais são ainda mais impressionantes. No fórum de 1995 o FMI anunciava que o crime organizado lavava, por ano, a quantia de US$ 750 bilhões, sendo o quinhão do narcotráfico de cerca de US$ 500 bilhões. Naquela altura o FMI já estimava em US$ 100 bilhões o incremento anual no faturamento do crime organizado.
Uma margem assim tão fabulosa se explica por dois motivos. A atividade, por ser ilegal, não é tributada, e o chamado "imposto sobre a proibição" faz com que 1 kg de cocaína produzido na Colômbia chegue a Nova York valendo quase dez vezes mais. No varejo o preço aumenta em maior proporção.
É evidente que uma tal fábula de dinheiro reunida não se destina apenas a investimentos em produção e ganhos com a racionalização. O próprio caráter ilícito do tráfico exige que os barões da droga estabeleçam sólidos e lucrativos contatos com as autoridades dos países onde mais atuam. As denúncias envolvendo as ligações entre o presidente da Colômbia, Ernesto Samper, e o Cartel de Cali são apenas um exemplo eloquente. Seria ingênuo acreditar que o Brasil esteja isento dessa chaga. A corrupção já chegou -é óbvio- à polícia e sabe-se lá a quais outras autoridades.
Enfrentar o crime organizado tornou-se uma tarefa global. Uma organização que fatura 1,5 PIB do Brasil por ano é capaz de desestabilizar qualquer governo. Desafiar de forma conjunta essa organização que não conhece fronteiras tornou-se um imperativo. Tudo porém soa um pouco ridículo quando se considera que o orçamento da Interpol é da ordem de US$ 30 mil.

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