São Paulo, quarta-feira, 7 de fevereiro de 1996
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Bender e Tarantino formam dupla inseparável

DANIELA ROCHA
EDITORA-ASSISTENTE DA ILUSTRADA

O grandiloquência do nome Quentin Tarantino esconde um ex-bailarino e ex-ator nova-iorquino chamado Lawrence Bender, 38.
Bender é o braço direito de Tarantino, seu produtor oficial. Há três anos, eles eram apenas desconhecidos do show biz em meio a um mar de aspirantes a diretores, atores e produtores de cinema de Hollywood. Se encontraram por acaso e estouraram juntos.
O nome de Bender consta dos créditos dos aclamados "Pulp Fiction - Tempo de Violência" e "Cães e Aluguel" e de filmes menores, porém não menos impactantes, como "Parceiros do Crime" e "Fresh".
Ele lança agora mais uma produção, desta vez com Tarantino, Robert Rodriguez, Allison Anders e Alexandre Rockwell. O filme é "Grande Hotel" (Four Rooms), que estréia dia 16 no Brasil (leia abaixo). A seguir, leia trechos da entrevista com Bender.
*
Folha - Como você começou no cinema?
Lawrence Bender - Fiz meu primeiro filme com baixo orçamento, de US$ 100 mil, há oito anos. Era um pequeno filme de horror, chamado "Intruder". O cara que dirigiu o filme, Scott Spiegel, era um grande amigo de Quentin. Alguns anos mais tarde, eu estava sem emprego, porque ninguém ligou para o "Intruder", e Scott sugeriu que Quentin e eu nos encontrássemos, porque ele precisava de um produtor.
Folha - E vocês logo começaram a trabalhar juntos?
Bender - Ele tinha alguns roteiros que que estava tentando fazer. Passou quatro ou cinco anos tentando financiar "True Romance" e "Assassinos por Natureza" e não conseguiu. Quando nos encontramos, ele disse: "Olha, vou escrever um novo filme, chamado 'Cães de Aluguel'." Começou a contar do que se tratava e fiquei empolgado.
Aquilo foi o começo. Ele queria filmar com US$ 50 mil, em 16 mm e preto-e-branco. Li o roteiro e disse que era muito bom. Pedi mais tempo para levantar mais dinheiro. Mas ele já estava tão cansado de correr atrás de grana que não me daria tempo algum para conseguir financiamento. Insisti para ele esperar dois meses.
Folha - Qual foi sua primeira impressão de Tarantino?
Bender - Ele é meio estranho, como todos nós. Ele tem uma memória impressionante e uma sensibilidade visual apurada. E nunca vi ninguém com tanta energia e empolgação como ele. Nos aproximamos muito rápido. E nós provavelmente trabalharemos juntos para o resto de nossas vidas, é como um casamento.
Folha - É divertido ser produtor de cinema em Hollywood?
Bender - Às vezes é divertido, às vezes, entediante.
Folha - Você também é ator?
Bender - O que aconteceu foi que me mudei para Los Angeles para trabalhar como ator. Não consegui e comecei a trabalhar em equipes de cinema, fazendo carpintaria nos estúdios até ser assistente de direção. Então decidi produzir um filme por minha conta para atuar nele. Foi o "Intruder".
Folha - Antes disso, você trabalhou como bailarino?
Bender - Fui bailarino e adoro dançar. Mas comecei a fazer balé tarde, quando tinha 19 anos e me machuquei algumas vezes. Aí resolvi ser ator e desisti de ser bailarino. Dançava flamenco, dança moderna e depois, balé.
Folha - Você esperava o sucesso de "Pulp Fiction"?
Bender - Honestamente não. Sabíamos que tínhamos feito um bom filme, mas o sucesso foi um grande choque. Um choque muito prazeroso. E foi bom porque a indústria do cinema percebeu que uma produção independente pode ser sucesso não apenas de crítica, mas também de bilheteria.
Folha - Um grupo de atores, incluindo Tim Roth, John Travolta, Bruce Willis e Harvey Keitel participaram de várias produções suas.
Bender - É como ter uma companhia de repertório. É um grupo de pessoas que adora trabalhar junto, é como uma família. Eles são bem-humorados de diferentes formas. Travolta é engraçadíssimo. Sou muito sortudo em trabalhar com eles e pretendo continuar, mas também quero trabalhar com gente nova.

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