São Paulo, quinta-feira, 8 de fevereiro de 1996
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Falta um articulador

FERNANDO RODRIGUES

BRASÍLIA - Independentemente do resultado final na emenda da Previdência, o governo FHC demonstrou, mais uma vez, que sente muito a falta de um real articulador político.
A função é desempenhada por free-lances, como os ministros Sérgio Motta (Comunicações) e Clóvis Carvalho (Casa Civil). FHC diz ser ele o articulador. Mas, em momentos cruciais, parece que ninguém se dispõe a colocar a mão na massa.
A negociação sobre a Previdência é exemplo de um descuido que não se vê nem no mais incipiente movimento estudantil.
No meio de uma negociação, uma das partes (o relator Euler Ribeiro) divulgou o seu documento sem consultar previamente, de forma reservada, o outro lado (a CUT).
Quem teve o mínimo de militância política sabe que tentar manobrar na hora de redigir um documento final é a forma mais infantil de batotear o aliado. Antes de divulgar uma proposta, os chefes têm de ler o texto em sua versão definitiva. Chamem isso como quiserem -conluio, conchavo etc.-, mas é assim que grandes acordos são firmados.
Há aí componentes que mexem com as veleidades dos parlamentares. O deputado Euler Ribeiro acha um absurdo submeter seu parecer ao sindicalista Vicentinho antes de divulgá-lo.
Por isso um real articulador ajudaria a contornar a fogueira das vaidades do Congresso. Proporia, de forma diplomática e reservada, a consulta prévia entre as partes envolvidas.
Isso não foi feito. Quase toda a energia gasta pelo governo FHC dissipou-se durante a noite de anteontem para ontem, quando Vicentinho e seus colegas na CUT dedicaram-se a achar defeitos no parecer de Euler Ribeiro.
Teria sido possível evitar isso com uma discussão prévia do texto do parecer, antes de divulgá-lo.
Não há no governo uma pessoa responsável pela coordenação desse tipo de aproximação diplomática.
FHC não pode fazer isso. Clóvis Carvalho, idem. Sérgio Motta parece mais preocupado com sua candidatura a prefeito de São Paulo. Os líderes governistas ficam fragilizados pela difusão de poder entre si.
Ou FHC resolve logo esse problema ou as reformas constitucionais programadas para este ano só passarão aos soluços. Com sorte.

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