São Paulo, sexta-feira, 9 de fevereiro de 1996
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MST apresenta gravação contra delegado

GEORGE ALONSO
DA REPORTAGEM LOCAL

A direção nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) divulgou ontem uma gravação em fita cassete como prova de que o delegado Marco Antonio Fogolin, de Sandovalina (Pontal do Paranapanema), propôs a entrega do líder foragido José Rainha em troca da libertação de quatro líderes dos sem-terra.
A gravação foi feita no gabinete do juiz Fernando Florido Marcondes, da 2ª Vara Cível de Presidente Prudente (SP), em 31 de janeiro passado. Além do delegado e do juiz, estavam na reunião o promotor Paulo Sergio Ribeiro da Silva e um dos advogados do MST, Juvelino Strozake, autor da gravação.
Procurado pela Folha, às 22h20, Fogolin, 24, não quis comentar sobre a veracidade da fita: "Tenho a consciência tranquila. Na semana que vem, tiro todas dúvidas. Você precisa me conhecer pessoalmente. Não sou nenhum desses 'bichos' que falam".
O juiz e o promotor não foram encontrados em seus gabinetes.
Segundo o advogado do MST, a decisão de gravar ocorreu porque, no dia anterior, Fogolin teria feito essa mesma proposta na frente da sem-terra presa Diolinda Alves de Souza, mulher de Rainha.
Pela gravação, de 45 minutos, a sugestão de troca de presos partiu do delegado e não do advogado do MST, como chegaram a dizer Fogolin e o juiz Marcondes depois que o MST denunciou a proposta publicamente na semana passada.
Esse foi outro dos motivos pelos quais a fita foi divulgada. "Minha reputação pessoal e profissional foi posta em xeque. É prova de defesa", disse Strozake.
Na fita, Fogolin diz: "Me dispus como delegado a fazer um relatório ao juiz e ao promotor pedindo a revogação da prisão dos que estão presos". Uma das condições que Fogolin impõe é a de que Rainha seja entregue à polícia.
"Que o Zé Rainha se apresente pra mim e que eu traga ele aqui na presença do juiz com mandado de prisão, porque a polícia e a Justiça entendem que precisam dar uma resposta para a sociedade", afirma o delegado, na gravação.
Fogolin diz ainda, na fita, que é "importante" que Rainha seja levado por ele até o juiz. Explica a "intenção" da oferta: "Dizer que nós damos as cartas, não o Zé Rainha". E mais: "Não é brincadeira. É um puta negocião pra vocês".
Em certo momento, o juiz sugere que Strozake consulte por telefone seu escritório sobre a proposta do delegado. "Pode usar a minha, fique à vontade", diz o juiz.
Em outro trecho da fita, Fogolin também afirma: "Se eu falar para os fazendeiros trazerem um tanque de guerra aqui, eles trazem".
Ontem, outro advogado do MST, Luiz Eduardo Greenhalgh, entrou com pedido de habeas corpus no Tribunal de Justiça de São Paulo, tentando a revogação das prisões preventivas de seis líderes dos sem-terra. Dois estão sumidos.
O texto integral da gravação foi anexado ao pedido. Para Greenhalgh, ao propor a troca, ficou claro que os presos "não oferecem perigo à ordem pública, como diz o delegado de Sandovalina".
A fita também foi entregue ontem ao governador paulista, Mário Covas. Em relatório, o ouvidor da polícia do Estado, Benedito Mariano, vê "indícios fortes" de que Fogolin fez a oferta ao MST.

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