São Paulo, sexta-feira, 9 de fevereiro de 1996
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Para Simonsen, medidas são 'de rotina'

DA REPORTAGEM LOCAL; DA REDAÇÃO

Ex-ministro vê coerência com a atual política do governo; Ibrahim Eris elogia limites ao capital especulativo
O ex-ministro do Planejamento Mário Henrique Simonsen classificou como "medidas de rotina" o pacote anunciado ontem pelo governo para conter a entrada de dólares no país.
"Não foi tomada nenhuma medida transcendental", diz Simonsen. Segundo ele, a decisão está de acordo com a política que vem sendo seguida pelo governo. "São medidas pontuais, não há muito o que comentar", afirmou.
O ex-ministro disse ainda que não é possível saber se as medidas anunciadas serão suficientes para atingir os objetivos do governo.
"É como dor de cabeça. A gente só sabe quantas aspirinas são necessárias para fazer efeito depois que ela passa".
Para Ibrahim Eris, ex-presidente do Banco Central (governo Collor) e atualmente sócio da Linear Administradora de Patrimônio, o BC foi cuidadoso.
"Mexeu exclusivamente com o capital especulativo. Mexeu com as últimas operações que permitiam o ingresso exclusivamente para arbitrar juros (ganhar com a diferença entre o juro praticado no exterior e no Brasil). Eu gostei das medidas", diz.
Eris afirma que o governo "não deve perder uma oportunidade de ouro" para expulsar o "dinheiro vagabundo (o capital especulativo)" do país. Basta baixar os juros pagos na captação.
"É preciso deixar essa história de que somos diferentes do resto do mundo. Por que pagar taxas aqui de 30% se pagam lá 3%?"
O ex-presidente do BC ironiza os analistas que defendem manutenção de juros elevados para impedir uma eventual elevação do consumo.
"Os juros efetivos já caíram de um patamar mensal de 4,2% para 2,3%. Ou seja, caíram o equivalente a 30% ao ano. E o que aconteceu? Nada."
Para Eris, depois de um ano e meio de vigência do Plano Real, o país ganhou credibilidade no exterior e vão continuar ingressando recursos para investimentos produtivos, em Bolsas de Valores e mesmo para serem repassados em crédito ao consumidor.
Esses ingressos, afirma, não foram afetados pelas medidas adotadas ontem pelo BC e seu fluxo também não é afetado por uma queda das taxas pagas na captação. "Esse ingresso vai continuar."
Logo, acredita Eris, a queda dos juros expulsaria do país o "capital vagabundo, mas o nível de reservas (o caixa do país em moeda forte) não seria afetado e melhoraria muito de qualidade."
O presidente da Bolsa de Valores de São Paulo, Alfredo Rizkallah, considera as medidas adotadas ontem coerentes com a política econômica.
Para Rizkallah, a comunidade internacional deverá considerar as medidas positivas, no sentido de que o governo está adotando "medidas sérias e coerentes".
Segundo ele, não era possível mesmo continuar havendo a entrada de dinheiro com o "selo" de que seria um empréstimo no exterior e os recursos acabarem sendo aplicados em títulos públicos cambiais com juros elevados. Para Rizkallah, as medidas devem evitar essa camuflagem.

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