São Paulo, sexta-feira, 9 de fevereiro de 1996
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O fim da malandragem

FERNANDO RODRIGUES

BRASÍLIA - Depois de muito amadorismo, o governo colocou ontem um time de peso para trabalhar na mudança da Previdência. Uma tropa de choque, comandada pelo próprio presidente da República.
A emenda constitucional vai ser votada diretamente no plenário da Câmara. Acabou a comissão especial que discutia o assunto. Tudo com o aval de FHC.
Em conversa com seus aliados, o presidente demonstrou descontentamento com a atuação dos líderes governistas na negociação com Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, da CUT.
FHC apontou o que considera um pouco de malandragem do negociador cutista. "Há mais de uma semana que ele (Vicentinho) não tem mais retorno no acordo que fez", disse o presidente a interlocutores ontem.
Vicentinho, um negociador experiente, engoliu os deputados -neófitos em negociações que exigem idéias e não apenas trocas de cargos. O presidente da CUT enxergou espaço e começou a pedir tudo o que podia.
Várias vezes Vicentinho ameaçou sair da sala de negociação. O líder do governo na Câmara, Luiz Carlos Santos (PMDB-SP), o abraçava e a negociação seguia. E Vicentinho pedia mais.
Essa combinação da matreirice de Vicentinho com a leniência dos parlamentares desembocou numa reforma pífia da Previdência.
Para defesa geral, é conveniente dizer que não há santos nessa história.
Na fase final, Vicentinho falava em defender os trabalhadores do setor público. Pedia um período de transição para as novas regras de aposentadoria. Por quê? Para manter o privilégio da aposentadoria com o salário integral e permitir uma farra de servidores se aposentando para aproveitar a regra antiga.
E os deputados? Nenhuma palavra sobre a sua previdência particular, que permite a mamata da aposentadoria com apenas oito anos de mandato.
E o governo? Mais preocupado em costurar uma ampla base de negociação com as centrais, FHC e seus aliados transformaram a reforma da Previdência num ajuste que já tem até data marcada para ser revisto: daqui a cinco anos.
Ontem, o presidente resolveu articular. Mas sua ação direta talvez tenha vindo tarde demais.

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