São Paulo, sábado, 10 de fevereiro de 1996
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Mãe acha filha raptada por francês em 93

GEORGE ALONSO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os irmãos Benjamin, 3, e Natasha, 8, tiveram, praticamente, seu primeiro encontro ontem de manhã, no Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo. Nastasha abraçou o irmão. Ele retribuiu com beijo. Trocaram presentes. Natasha só tinha visto Benjamin bebê, por três meses em 92.
Em janeiro de 1993, o pai das duas crianças, o francês Joel Gaget, veio passar o Natal no Brasil. Raptou Natasha e desapareceu com a menina no interior francês.
A mãe, a brasileira Conceição de Britto Gonzalez, 37, passou três anos procurando a filha naquele país. Contratou detetive, enfrentou burocracia e descaso.
A família já aventava com Conceição a possibilidade de ela nunca mais ver a filha. Porém, no último dia 2, a juíza Marie-Pierre Porchy, de Lyon (sul da França), que prometera à mãe achar a menina, informou à advogada de Conceição que Natasha fora encontrada.
Conceição (que estava no Brasil de passagem para não perder contato com o filho Benjamin) voou no mesmo dia para Lyon. A filha a recebeu com tulipas vermelhas que escolheu. "Perguntei se tinha saudades. Ela disse que sim. Fiquei mais tranquila", contou a mãe.
"Jamais desisti. Sabia que ia achá-la", disse Conceição, que havia ganho a guarda da menina em fevereiro de 1994, na Justiça francesa. O problema é que Gaget sumira com a garota. Conceição tinha os papéis, mas não a filha.
Para encontrar Nastasha, a polícia deteve os pais do ex-marido de Conceição (que negavam saber onde Gaget estava) e rastreou telefonemas e cartas. No último dia 2 Gaget, 45, foi preso em uma casa de campo a 200 km de Lyon.
Os policiais se vestiram de funcionários de uma empresa de energia, para não chocar a menina.
Natasha vivia isolada. Não ia à escola. Era alfabetizada em casa, pelo pai. Quando saía, era chamada de Natalie. Engordou bastante.
Arquitetos, Conceição e Gaget se conheceram em Los Angeles (EUA), em 1985. O casamento, turbulento, durou até 1988.
Segundo a mãe, Gaget não poderá sair da França por dois anos e só poderá ver a filha no Brasil, sempre acompanhado. "Nunca o impedi de vê-la. Agora, prometi a Natasha que ela veria o pai, mas vamos tomar precauções."
Na verdade, a família de Conceição preferiria não vê-lo mais.
Ainda na França, Natasha disse à psiquiatra que avaliou suas condições que sentia falta do irmão.
Benjamin só a conhecia por fotos. Por telefone, ele chegou a perguntar a Natasha por que ela tinha sumido. A mãe preferiu não traduzir. "Depois, eu explico."
A menina só fala francês. Benjamin, só português. À tarde, já brincavam animados em casa, em Santana (zona norte de São Paulo).

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