São Paulo, sábado, 10 de fevereiro de 1996
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Jazz norte-americano aponta tendência para fusão de estilos

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A julgar por quatro novidades que acabam de chegar às lojas do país, o jazz produzido atualmente no mercado norte-americano faz do ecletismo seu princípio.
Desde que se mantenha uma certa dose de improvisação, tudo é válido: revisitar estilos concebidos nos anos 40 ou 60, gravar uma espécie de "songbook" do compositor pop Tom Waits, ou mesmo jazzificar a música brasileira.
Romper com o estigma desse gênero -o de ser visto como uma música complexa, só para iniciados- é uma preocupação do guitarrista John Scofield. Retomando a fórmula de seu álbum anterior ("Hand Jive"), o ex-parceiro de Miles Davis volta a investir nas fusões do jazz com o soul, com o funk e o blues, no CD "Groove Elation" (Blue Note/EMI).
O título do álbum explica tudo. Em suas 10 novas composições, Scofield explora o apelo rítmico dos "grooves" (levadas dançantes), impulsionado por um veterano mestre do jazz dançante: o baterista Idris Muhammad.
É o que se ouve em faixas como a nervosa "Kool", a vibrante "Carlos" e a meditativa "Soft Shoe", que encontram no órgão de Larry Goldings uma coloração típica do jazz-soul, mas sem soarem déjà vu. Um álbum delicioso, para quem não tem preconceitos contra "grooves".
Se Scofield elegeu os anos 60 como fonte de inspiração, o trio formado por Roy Hargrove (trompete), Christian McBride (baixo) e Stephen Scott (piano) voltou mais ainda no tempo: mergulhou nos anos 40, ou melhor, no intrincado "bebop" do saxofonista Charlie Parker (1920-1955).
Com essa formação pouco convencional (os quintetos com trompete, sax alto, piano, baixo e bateria eram mais típicos do "bebop"), o jovem trio revisita 16 temas do repertório parkeriano, no CD "Parker's Mood" (Verve).
A linha "songbook" também foi seguida por Holly Cole, uma cantora da nova geração que ainda permanecia inédita no mercado nacional. Em vez dos "standards" que recriou em discos anteriores, neste "Temptation" (Metro Blue/EMI), ela decidiu investir pela obra de Tom Waits. Conseguiu desvendar meandros melódicos e harmônicos nas 17 canções de Waits, que o vozeirão rouco do autor impedia de exibir.
Outro músico inédito no Brasil é o saxofonista e compositor norte-americano Javon Jackson, que estréia por aqui com "For One Who Knows" (Blue Note/EMI), seu segundo álbum.
Dono de uma sonoridade opaca e encorpada, que lembra a de Joe Henderson, Jackson homenageia seus ídolos saxofonistas, como Wayne Sorter e Sonny Rollins.
Curioso mesmo é o fato de o garoto incluir três temas brasileiros entre os oito do repertório do álbum: "Etcetera" (de Caetano Veloso), que virou uma balada romântica; a delicada "Inútil Paisagem" (de Tom Jobim) e o samba "Formosa" (de Baden Powell e Vinicius de Moraes).
Jackson está longe ainda de um Stan Getz ou de um Joe Henderson, que fizeram notáveis incursões jazzísticas pela música brasileira. Mas já mostra que tem qualidades para brigar por um lugar nessa nobre linhagem.

Títulos: Groove Elation (do guitarrista John Scofield); Temptation (da cantora Holly Cole); For One Who Knows (do saxofonista Javon Jackson)
Lançamentos: EMI
Título: Parker's Mood (com o Roy Hargrove/Christian McBride/Stephen Scott Trio)
Lançamento: Verve/Polygram
Quanto: R$ 20 (em média, cada CD)

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