São Paulo, sábado, 10 de fevereiro de 1996
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América recebe obras de Boilly pela 1ª vez

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

A Galeria Nacional de Arte, em Washington, está mostrando até o dia 28 de abril a primeira retrospectiva já feita no continente americano das pinturas de Louis-Léopold Boilly, o cronista da França napoleônica.
São 45 telas vindas de museus e coleções particulares da Europa para comemorar os 150 anos da morte do pintor que, embora não seja colocado entre os melhores, teve importante papel político na França.
Depois de quase ter tido sua cabeça perdida na guilhotina que decepou as de outras 354 pessoas acusadas de degradar a moralidade pública em 1794, no auge da era do terror da Revolução Francesa, Boilly passou a se dedicar a pintar o povo.
Oportunismo
Foi mero oportunismo, dizem seus biógrafos. Nascido nas proximidades de Lille, em 1761, Louis-Léopold Boilly foi aos 24 anos tentar a sorte em Paris, disposto a fazer o que todos os pintores da época faziam: agradar aos nobres.
Seus primeiros trabalhos foram típicos da época em que ele vivia: ninfas seminuas, senhoritas coquetes em salões luxuosos, cavalheiros galantes, retratos de condes e duques.
Denunciado pelos jacobinos, Boilly comprou sua absolvição com um quadro apologético dos novos poderosos que surgiam: "O Triunfo de Marat".
A partir dali, sua temática começou a mudar e passou a acompanhar os desejos de quem mandasse no país.
Uma jovem pobre passando roupa com um ferro pesado do fim do século 18, por exemplo, é retratada como se fosse uma rainha do lar, feliz, executando sua tarefa pelo bem da pátria.
Um pai ensinando geografia a sua filha em casa mostra a ela num mapa as vitórias de Napoleão nas suas campanhas do início do século 19.
Mas Boilly não foi precursor do realismo socialista soviético. Suas pinturas tinham quase sempre um toque de leveza e bom humor, às vezes de ironia, que as aproximava da realidade.
Ele foi uma espécie de Norman Rockwell (1894-1987) da França pós-revolucionária.
Mostrava cenas e personagens do cotidiano local de maneira a lhes conferir uma aura de beleza decorrente de sua própria simplicidade.
Como retratista, se assemelhava a Hogarth (1696-1764), de quem chegou a copiar um pouco do estilo sem jamais ter, no entanto, conseguido se comparar em qualidade.
A importância de Louis-Léopold Boilly é mais documental do que artística.
Dele são os registros de imagem mais representativos do período histórico da França em que os pobres e os cidadãos de classe média viraram atores políticos fundamentais.

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