São Paulo, sábado, 10 de fevereiro de 1996
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Artista procurava agradar governantes

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Quando chegou a Paris, Boilly provavelmente não imaginou que teria de trabalhar tanto para sobreviver como pintor.
Sua principal fonte de renda depois da Revolução foram pequenos retratos de qualqer um que lhe pagasse 120 francos, equivalente hoje a US$ 24.
Boilly dizia ter pintado 4.500 desses retratinhos, três dos quais estão na retrospectiva da Galeria Nacional de Arte de Washington.
Além disso, ele ainda tinha que garantir a sobrevivência política com telas mais ambiciosas para satisfazer aos donos do regime vigente.
Com tanta atividade, surpreende que tenha achado tempo para qualquer outro tipo de arte que não fosse para ganhar o pão ou salvar a pele.
Mas foi na atividade extra-essencial, nas pinturas "trompe l'oeil", os truques visuais para iludir o olhar, que ele foi mais criativo e instigante.
Seus "trompe l'oeil" aparentavam três dimensões e colagens. Muitos eram particularmente bem-humorados, com auto-retratos que dialogavam com o público, com frequência de maneira autodepreciativa.
Críticos mais condescdentes tentam ver em Boilly um precursor dos impressionistas por causa dos temas populares que ele pintou.
É verdade que ele se antecipou a Manet, Monet e Renoir com suas pinturas sobre atividades de lazer de pequenos burgueses.
Mas é provável que se não tivesse sido Boilly, outro artista qualquer sobrevivente da guilhotina teria escolhido esses temas e representado o mesmo papel de antecipador dos sujeitos do impressionismo.
Assim como se não houvesse ocorrido a Revolução, Boilly teria sido apenas mais um anônimo pintor da corte de Luis 16.
Boilly e a Revolução se ajudaram mutuamente. Ela o notabilizou. Ele lhe deu uma estética e um legado artístico.
Quando a monarquia foi restaurada, em 1815, a importância de Boilly começou a declinar. Apenas sua série de litografias humorísticas conhecida como "grimaces" e produzida em 1823 teve algum tipo de repercussão.
Seis anos depois, ele se aposentou. Morreu em Paris, em janeiro de 1845.
O catálogo da mostra da Galeria Nacional é também o primeiro estudo extensivo em língua inglesa do trabalho de Louis-Léopold Boilly.
Ele foi escrito por Susan Siegfried, da Universidade de Leeds, Grã- Bretanha, e publicado pela Yale University Press.
(CELS)

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