São Paulo, domingo, 11 de fevereiro de 1996
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Estabilidade faz preço da terra despencar em 1995

BRUNO BLECHER
EDITOR DO AGROFOLHA

Os preços das terras agrícolas despencaram em 95, por conta da combinação entre a crise da agricultura e a estabilidade econômica pós-Real.
Em doze meses (fevereiro de 95 a janeiro de 96), o preço médio do hectare (10 mil m2) de terra roxa, já pronta para o plantio, caiu 36%, em valores reais, no Paraná, segundo dados do Departamento de Economia Rural (Deral).
Em São Paulo, o hectare de terra de primeira registrou queda real de 30% entre novembro de 94 e novembro de 95 -de R$ 5.572 para R$ 3.898-, de acordo com levantamento do Instituto de Economia Agrícola (IEA).
"O comércio de terras está voltando à realidade depois da euforia dos primeiros meses do Plano Real", diz Atílio Benedini, da Benedini imóveis, de Ribeirão Preto.
Segundo ele, logo após a implantação da nova moeda, o preço do alqueire (24.200 m2) na região de Ribeirão Preto saltou do equivalente a mil t de cana para 2.000 t de cana.
"Hoje o preço da terra roxa na região voltou a valer mil t de cana/alqueire, cerca de R$ 13 mil", diz o corretor.
Para Agenor Santa Rita, pesquisador do Deral, no Paraná, o mercado está começando a se acomodar. "Com a inflação alta, o agricultor supervalorizava a sua terra, corrigindo o preço mensalmente e até quinzenalmente. Agora acabou a corrida", diz Santa Rita.
Richard Dulley, pesquisador do Instituto de Economia Agrícola (IEA), em São Paulo, também prefere atribuir a desvalorização das terras mais à estabilidade da economia, do que à forte queda dos preços agrícolas em 95. "O mercado está iniciando um período de transição.
Na era da inflação, a terra funcionava como reserva de valor. Agora começa a voltar a ser um bem de produção", explica Dulley. Esta mudança, segundo Dulley, está assustando os fazendeiros, que vêem seu patrimônio desvalorizar.
"Para quem não é especulador, porém, essa tendência é positiva. A terra passará a ser valorizada pelos seus aspectos produtivos, desde a qualidade do solo, do clima da região, às condições de infra-estrutura", aponta o pesquisador.
Mais cautelosa, a pesquisadora Maria José Cyhlar Monteiro, do Centro de Estudos Agrícolas, da Fundação Getúlio Vargas, diz que é cedo para se avaliar os efeitos da estabilidade econômica sobre os preços da terra.
Em artigo publicado na revista "Agroanalysys" (dezembro de 95), Maria José aponta duas hipóteses opostas.
"Uma vez consolidada a estabilidade, poderá haver maior interesse pelas atividades produtivas, aumentando a demanda por terra e, portanto, seus preços.
Por outro lado, numa economia estável, o papel da terra como reserva de valor diminui bastante e, por consequência, a demanda especulativa também poderá cair", ela explica.
Na avaliação do economista Fernando Homem de Melo, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), o fim da especulação no mercado de terras não vai acontecer da noite para o dia.
"Isto depende da confiança da população na estabilidade econômica", diz o economista.
Mas a tendência, segundo ele, é de que a terra volte a ser um bem de produção.

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