São Paulo, domingo, 11 de fevereiro de 1996
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Cenários mundiais

ANTONIO KANDIR

Como será o mundo em 15 ou 20 anos? Prevalecerá um cenário mundial favorável ao desenvolvimento econômico e à democracia? Ou teremos anos sombrios?
Respostas interessantes a esses questões são apresentadas no artigo "Why 1996 matters", publicado na revista "The Economist", de 27/1/96. Vale a pena conferir.
Para a revista, 1996 pode ser o início de um longo ciclo de paz a prosperidade se houver a combinação dos seguintes resultados em três ou quatro eventos a ocorrer ainda este ano: i) nas eleições americanas, em novembro, clara afirmação de postura ativa dos EUA no âmbito internacional, com vitória de um candidato apto a oferecer uma política externa consistente para o país; ii) nas eleições russas, em junho, vitória de Boris Yeltsin, com subsequente reaceleração das reformas e prevalência de atitude pró-ocidental; iii) evolução da Comunidade Européia rumo a etapas mais avançadas do processo de integração; iv) opção definitiva da China em favor da ampliação do espaço da economia de mercado, depois da morte de Deng Xiaoping.
Se o otimismo moderado domina a expectativa quanto à eleição americana, a incerteza marca a expectativa quanto aos demais eventos. Incerteza que ganha dimensões quase dramáticas nos casos da Rússia e da China, não só pela incrível volatilidade da política russa e pela opacidade das relações chinesas de poder, mas também pela radical diferença das alternativas, em ambos os casos.
Esses dois grandes focos de incerteza, afora as incertezas quando aos desdobramentos da unificação européia, guardam em si possibilidades que resultam em cenário oposto ao esquematizado acima.
No cenário pessimista, assistiríamos à soma de vitórias mais ou menos tresloucadamente nacionalistas na China e Rússia e ao aborto da unificação européia, com enfraquecimento da posição do continente na geopolítica mundial e certo desgarramento de sua porção leste. Tudo isso com pano de fundo da atuação titubeante dos EUA.
Não é o cenário mais provável, mas plausível, quer porque a unificação européia tem esbarrado em maiores obstáculos do que se supunha, quer porque são reais as possibilidades de vitória de Zyuganov, líder do PC russo, ou mesmo de Jirinovski, expoente do pior nacionalismo, quer ainda porque são cada vez mais nítidas as pretensões renovadas da China sobre Taiwan e a corrida de rearmamento na região (tem havido incremento de gastos militares em vários países, do Japão à Tailândia).
O cenário pessimista, plausível, mostra que a hegemonia das democracias ocidentais capitalistas no cenário mundial não é automática, como alguns ingenuamente acreditaram no final dos anos 80, e que "velhas questões" estão aí.

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