São Paulo, domingo, 11 de fevereiro de 1996
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Agências de risco ganham espaço com crise bancária

MILTON GAMEZ
DA REPORTAGEM LOCAL

Não basta ser sólido. É preciso parecer sólido.
Paródia moderna das mulheres de César -que precisavam parecer honestas na Roma antiga-, os bancos estão procurando consolidar sua imagem após a crise do ano passado, que levou o Econômico e o Nacional à lona.
É crescente no setor a contratação de empresas independentes de classificação de riscos, as chamadas "rating agencies".
Essas agências destrincham os números, as operações, os ativos, os passivos, os mecanismos de controle e as estratégias dos bancos, avaliando seus profissionais e dando, no final, uma nota que indique o risco de cada instituição.
"Nosso movimento dobrou no último ano. Fizemos análises qualitativas de pelo menos 25 bancos grandes", diz Paul Bydalek, presidente da Atlantic Rating, associada à agência Thomson BankWatch, dos Estados Unidos.
As avaliações da Atlantic Rating são divulgadas apenas num círculo restrito de investidores profissionais, que compram os boletins da agência. Mas a SR Rating, também carioca, faz questão de abrir as notas de seus clientes ao público -desde que eles autorizem a primeira publicação.
A SR, que é associada à americana Duff & Phelps, já avaliou o Unibanco (nota A1), o Banco BMD (Baa), as debêntures do Mappin Trust (Aa) e da Companhia Têxtil Ferreira Guimarães (Baa). Veja na tabela "Boletim de Banqueiro" o que significa cada tipo de nota.
O próximo a divulgar o resultado de um check-up completo é o Banco Fenícia, do grupo do mesmo nome, que reúne empresas como Lojas Arapuã, Paoletti (da marca Etti) e Neugebauer.
Amanhã, o Fenícia divulga sua nota ao mercado, esperando com isso mostrar que tem saúde financeira de sobra para enfrentar a nova realidade do mercado bancário.
"A classificação de riscos já existe há cem anos nos Estados Unidos. A recente crise bancária e a globalização, que traz investimentos estrangeiros para nossos papéis, tornam o "rating" indispensável", diz Norma Carvalho Barbosa, diretora do Fenícia.
"Lá fora, quem tem uma boa nota dada por um avaliador independente consegue taxas menores ao captar recursos com a emissão de títulos. Aqui, isso é apenas uma questão de tempo."
Norma faz segredo quanto à nota do Fenícia. Apenas adianta que o banco está na categoria de investimento prudente ("investment grade", no jargão do mercado).
Esse clube, no caso da avaliação da SR Rating, vai de Aaa (a nota máxima) até Baa3 para papéis de longo prazo (acima de 180 dias). Abaixo disso, o banco é considerado um investimento especulativo. O Brasil, devido aos calotes ("defaults") da dívida externa, está nesse segundo grupo (nota Ba3).
Para ser classificado, o Fenícia abriu-se integralmente, nos últimos dois meses, aos analistas da SR Rating. O banco foi esmiuçado, seus executivos entrevistados, e seu desempenho comparado com o de instituições semelhantes.
"O mercado não se contenta mais com uma simples análise de balanços. Os grandes investidores querem dados mais profundos. Os balanços ficaram desmoralizados nos episódios do Econômico e do Nacional, que pareciam saudáveis", afirma a executiva.
Além do Fenícia, outras instituições procuraram a SR Rating nos últimos meses. Dois desses bancos foram analisados e não divulgaram suas notas, pois caíram no chamado risco especulativo.
"Se o mercado brasileiro fosse mais evoluído, até os bancos de risco especulativo teriam de divulgar suas notas, pois do contrário não encontrariam investidores para seus papéis", diz Sheila Sirota, diretora da SR Rating.
Nos Estados Unidos, segundo ela, a classificação de riscos é obrigatória para se captarem recursos junto ao grande público, que não compra papéis especulativos.
A SR Rating não obriga seus clientes a divulgarem suas notas, mas, se eles o fizerem, ela passa a publicar a nota mensalmente.
Em caso de deterioração dos ativos, por exemplo, o banco pode ter sua nota rebaixada.

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