São Paulo, domingo, 11 de fevereiro de 1996
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A força bruta de uma tecnologia de impacto

RICARDO BONALUME NETO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Não é exagero dizer que boa parte do que as pessoas costumam associar ao mundo "moderno", à "civilização", não existiria sem os computadores. Porém também não é exagero dizer que os computadores foram responsáveis por esse avanço tecnológico não por serem mais "inteligentes" que os seres humanos, mas por terem muito mais força bruta. Computadores são basicamente "number crunchers", máquinas capazes de "mastigar números" e vomitar um resultado útil.
Essa ainda é a principal utilidade destas máquinas, pelo menos enquanto uma inteligência artificial de verdade não seja desenvolvida. Para colocar em ordem alfabética uma lista de mil nomes, uma pessoa leva mais de um dia -1,8 dia, segundo uma estimativa do Museu do Computador, de Boston (EUA). Um microcomputador, não dos mais velozes, levaria 10,1 segundos. Um supercomputador Cray precisaria de 24 milésimos de segundo.
Fazer cálculos com rapidez sem dúvida tornou essas máquinas essenciais em algumas áreas. Na previsão do tempo a diferença é óbvia. Sem um computador, nem é possível "prever" em detalhe, pois o tempo que se levaria para fazer os cálculos passaria de muito o futuro que se gostaria de conhecer. Para fazer um mapa do tempo nas próximas 24 horas, uma pessoa levaria 1.200 anos fazendo os cálculos. Se ela usasse um microcomputador, levaria 3,9 semanas -um atraso ainda considerável. Um supercomputador precisa de apenas 9,5 minutos. Essa rapidez faz do computador a ferramenta adequada a uma série de atividades científicas e tecnológicas.
A ciência tornou-se uma verdadeira escrava dessas máquinas. Computadores são essenciais para entender a trajetória de partículas subatômicas levemente discerníveis em aceleradores. Computadores tornam inteligíveis os sinais de rádios, ou a radiação ultravioleta ou infravermelha, emitidos por estrelas.
(Mesmo alguns cientistas dependem pessoalmente dessas máquinas. O físico Stephen Hawking, por exemplo, vítima de uma doença muscular grave, não teria como se comunicar com o mundo se não fosse por um computador que transforma o que pensa em palavras em uma tela ou voz sintetizada).
O impacto da informática na tecnologia industrial pode ser visto em qualquer fábrica moderna, em que computadores controlam máquinas que tanto criam uma peça delicada como cortam chapas metálicas com raio laser.
As companhias de petróleo são usuárias típicas de máquinas poderosas, pois precisam de boa capacidade de computação para construir modelos que mostrem a estrutura da crosta terrestre, a partir de dados como tremores. Os modelos ajudam a descobrir os locais mais adequados para encontrar reservas de petróleo ou gás natural.
Aparelhos modernos de mapeamento do corpo, como tomógrafos, podem ser associados a supercomputadores. Mas mesmo máquinas bem mais simples são essenciais para a tarefa de construir em segundos uma imagem do interior do corpo. O computador tem que integrar rapidamente dados obtidos em múltiplos pontos e construir uma imagem inteligível.
Há sistemas de mísseis antiaéreos projetados para reagir à menor ameaça potencial detectada por radares. Em segundos o computador analisa os dados do radar, envia coordenadas ao lançador, que dispara o míssil. Um ser humano não teria essa capacidade de reação instantânea e precisa.
Esse último exemplo mostra bem os limites da tecnologia. Por melhor que seja a resposta do sistema de mísseis, ele pode se enganar. O mais moderno navio de guerra dos EUA derrubou um inocente avião de passageiros iraniano em 1988 porque os computadores pintavam a ameaça como sendo mais grave do que era, e o dedo do gatilho do capitão coçava.

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