São Paulo, domingo, 11 de fevereiro de 1996 |
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Contra o conforto da alma
DIOGO MAINARDI
A função da literatura não é reconfortar a alma humana, atribuindo-nos maior capacidade (de linguagem, de imaginação, de representação) do que de fato possuímos. A literatura combate o obscurantismo popular. Entre a Bíblia e Voltaire, fico com esse último. Ou seja, com aquele que ridiculariza as superstições e os preconceitos atávicos. É esse o sentido do meu livro: tomar o partido de Voltaire contra a Bíblia, de Luciano contra Homero, de Swift contra a Utopia, de Cervantes contra o romance de cavalaria. Nada de racismo. Chamar-me de racista é calúnia. Não conheço o autor da resenha, mas vejo que pertence ao ambiente acadêmico. A literatura sertaneja é uma clara expressão do establishment cultural do país, portanto não me surpreende que um mestrando, ansioso para conquistar seus pontinhos, critique meu livro. Afinal, ele vai ganhar a vida fazendo hagiografias dos autores regionalistas, disparando tolices como a de que a essência da literatura de Guimarães Rosa é "o arcaísmo de sua linguagem". Também não me surpreende que a Universidade de São Paulo gaste R$ 700 mil para glorificar as telenovelas, como descobri na última edição da revista "Veja". É a cultura oficial: sertanejos e telenovelas, telenovelas e sertanejos. Na minha vida profissional, sigo uma regra básica -faço sempre o contrário do que dizem os mestrandos. É infalível. O mestrando diz que não acha graça? Quer dizer que é engraçado. O mestrando se incomoda? Quer dizer que fiz a coisa certa. O mestrando sonha com uma autêntica literatura sertaneja? Aconselho José Sarney. Só não admito que reduza meus argumento à mera acusação de racismo. Texto Anterior: A quimera natural Próximo Texto: O caminho sem saída de Platão Índice |
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