São Paulo, domingo, 11 de fevereiro de 1996
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Boa novidade na perna das mulheres

GILBERTO DIMENSTEIN

A americana Linda Wachner, 49, viúva, é dona de um recorde: executiva mais bem paga no mundo.
Entre salários e benefícios, ela fatura por mês US$ 948 mil, cerca de US$ 31 mil diariamente; a cada 60 minutos embolsa US$ 1.200, o que um professor universitário brasileiro, em média, só vê depois de quatro semanas.
Principal executiva de duas empresas que produzem roupas (Warnaco e Authentic Fitness), Linda está em primeiro lugar, mas não é um caso isolado. Mais e mais americanas ganham salários até pouco tempo reservados exclusivamente a homens -enfrentando os preconceitos e a discriminação sexual, mostram que o bolso cada vez mais cheio é a grande e boa novidade nas pernas das mulheres.
Apenas em salário direto, Charlotte Beers, 60, divorciada, presidente mundial da empresa de publicidade Ogilvy & Mather, recebe US$ 83 mil. Não é, de fato, muito: ela conseguiu "apenas" as contas da American Express, Shell e IBM.
A melhor notícia, entretanto, não está em cima, mas embaixo.
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Sinal de avanço da cidadania, diminui a diferença salarial entre homens e mulheres nos Estados Unidos, segundo dados liberados pelas associações profissionais.
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Basta pegar uns poucos exemplos em áreas de dominância masculina, comparando os salários médios mensais.
1) Um cirurgião geral ganha US$ 16 mil; a mulher já atingiu US$ 14 mil;
2) Uma psiquiatra está com US$ 10 mil. Perde em apenas US$ 1.000 para o homem;
3) Um engenheiro com dez anos de experiência atinge a média US$ 5.300; a mulher, US$ 5.200;
4) Direção de criação em agência de publicidade. Homem: US$ 7.100. Mulher: US$ 6.600.
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Templos do politicamente correto, as universidades, embora ainda apresentem ligeira defasagem, dão exemplo. Professor: US$ 5.000. Professora: US$ 4.600.
Reitor: US$ 12 mil. Reitora: US$ 11,5 mil.
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Segundo o Instituto de Políticas Econômicas, um centro de estudos baseado em Washington, o salário da mulher subiu 6,1% (16,6% em altos cargos) nos últimos 20 anos; o do homem caiu 11,7%.
Mas, aqui, vai uma notícia desagradável. Ao todo, os salários do país despencaram quase 10% nesse período, apesar do aumento da produção.
O que mostra que, se por um lado estão resolvendo a discriminação, ainda não sabem como repartir melhor a renda numa sociedade baseada na alta tecnologia.
No final da linha, saem perdendo todos -no mínimo, pela obviedade de que a mulher é casada com o homem, e a renda familiar, na melhor das hipóteses, fica estagnada.
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Um bom jeito de perder o humor é ler os documentos produzidos para o encontro da ONU sobre o futuro das cidades, previsto para junho na Turquia; está acontecendo em Nova York a última reunião preparatória.
O Terceiro Mundo vai ter quase todas as cidades com mais de 20 milhões de habitantes, com exceção de Tóquio.
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De acordo com os textos, a cidade de São Paulo chega ao ano 2015 com 21 milhões de habitantes. Se o trânsito já está um pandemônio hoje, imagine então como pode ficar.
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O trânsito mostra bem o efeito colateral do crescimento econômico: ótimo para o emprego, um pesadelo para administradores e moradores de grandes cidades de países pobres.
Apesar da chiadeira empresarial, o Plano Real joga nas ruas da região metropolitana 1.110 carros novos por dia.
A frota ultrapassa este ano 5 milhões veículos.
Na começo década de 70, a frota da cidade não passava de 400 mil veículos.
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Os repórteres Mario Cesar Carvalho e Aureliano Biancarelli fizeram uma interessante comparação: a velocidade média na avenida Paulista é 11,7 km/h. Quase igual à da Quinta Avenida, em Nova York.
Só que não existe problema de trânsito em Nova York para quem anda de metrô ou a pé; a cidade é plana.

Uma das salvações de São Paulo seria, portanto, o metrô. Mas o déficit hoje é calculado em 360 km de linhas. Cada quilômetro acompanhado de uma estação custa US$ 100 milhões e 2 quilômetros exigem um ano de obras.

Muito interessante, por isso, a proposta do urbanista Cândido Malta Campos Filho: espalhar 300 micrôonibus, o que, segundo ele, tiraria 30% de carros das ruas. Cada perua, nos cálculos do urbanista, sairia por US$ 6.000, um total de US$ 1,8 milhão. Ou seja, 55 vezes menos do que um quilômetro de metrô.
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Detalhe histórico para irritar: no começo do século, a empresa canadense Light quis fazer o metrô em São Paulo e não deixaram. Como se vê, a extraordinária "lucidez" de nossas elites não é um fenômeno tão novo.
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Por falar em subdesenvolvimento, difícil entender o preço das passagens áreas no Brasil. A Iberia está oferecendo uma passagem de ida e volta Nova York-Barcelona, com nove horas de vôo, por US$ 278.
É o preço de 45 minutos da ponte aérea Rio-São Paulo.
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Três bons exemplos municipais:
1) Com ajuda do Grupo Ipiranga, a Prefeitura de Porto Alegre, do PT, vai pagar R$ 150 para a família que tirar um menino da rua; dez famílias já assinaram convênio. É uma boa economia: sem contar o incalculável estrago humano, numa cadeia o menino custaria cinco vezes mais.
2) Também do PT, a Prefeitura de Santos inovou com seu curso de férias, com professores especialmente treinados, para alunos com dificuldades nas escolas públicas. Interessante esforço contra a evasão escolar, provocada não só pela pobreza, mas pela péssima qualidade do ensino.
3) Depois do cinto de segurança, o prefeito Paulo Maluf presta mais um serviço à saúde: a esterilização nos hospitais públicos. É uma conquista ao direito da mulher planejar sua família.

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