São Paulo, terça-feira, 13 de fevereiro de 1996
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O novo ataque

JANIO DE FREITAS

A investida contra direitos trabalhistas e encargos sociais, a pretexto de que a eliminação de parte substancial deles reduziria o desemprego, situa-se entre o leviano e o mal-intencionado.
No editorial "O desafio do emprego", que fez uso de dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, logo, do governo mesmo, a Folha de ontem demonstrou em texto e em gráfico que "o nível de emprego cresceu enquanto a economia avançava rapidamente". O que se deu em "94 até o primeiro trimestre de 95", quando o governo impôs a contenção da atividade econômica. E "esse movimento da atividade econômica foi acompanhado bastante de perto pelas oscilações no emprego. Não é coincidência".
A realidade documentada que o editorial expôs, para concluir pela necessidade de retomada do crescimento econômico, desmente de modo categórico que a onda crescente de desemprego tenha relação com direitos trabalhistas e encargos sociais. Estes, além de existentes em 94 e no início de 95, presentes também em todas as outras fases precedentes de crescimento econômico, algumas de grande crescimento.
Também a modernização tecnológica é uma invocação incomprovável para explicar a onda de desemprego. Tamanha modernização não poderia ser tão repentina, nem tão abrangente, considerados os vários setores da atividade econômica. Além disso, haveria de ter correspondência, se acontecesse, com a produção e venda de máquinas e equipamentos. Em 95, porém, a produção de máquinas e equipamentos foi das que tiveram desempenho mais medíocre no setor industrial, míseros 0,3% de crescimento. E a pauta de importações, até onde foi conhecida, também não registrou a vinda de fatores industriais com grande expressão, muito menos se comparada com o desemprego.
Os encargos sociais precisam mesmo de uma revisão das boas, que não há por que esperar deste governo incapaz de conter o buraco nas suas contas (janeiro já deixou déficit de R$ 2 bi, ou metade do déficit de 95 inteiro). Mas passar da balbúrdia e do peso dos encargos aos argumentos incomprováveis para o desemprego é grave -embora próprio da argumentação à brasileira de economistas, governantes, empresários e jornalistas idem.
Valer-se de argumento falso para eliminar direitos trabalhistas soa como crime social. É uma intenção muito suspeita, partindo de dirigentes de um sindicato, o dos metalúrgicos de São Paulo.
Programa especial
Antes que seja divulgada uma das explicações, das várias em cogitação, para o caso de ser descoberto o programa incomum do ministro Sérgio Motta para o carnaval, pode-se descobri-lo logo e já com o motivo verdadeiro.
Seu desejo é viajar a Cuba, mas não para pegar o mar delicioso de Varadero: a finalidade é de ordem médica. O resultado de sua recente cirurgia foi o esperado do ponto de vista cardiológico. Já a incisão feita na perna, para retirada da safena aplicada no coração, não cicatriza e se tornou problemática. Talvez por efeito da diabete de que Sérgio Motta é portador descuidado, os tratamentos têm sido frustrantes.
Ainda antes que sua pré-candidatura a prefeito de São Paulo chegasse ao noticiário, a informação sobre a escolha do ministro pela cúpula do PSDB já era acompanhada, aqui, da ressalva de que o plano se condicionava ao seu estado de saúde. A pré-candidatura está nos jornais, mas a condição preliminar permanece e motiva a viagem.

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