São Paulo, terça-feira, 13 de fevereiro de 1996
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PFL só aceita votar reeleição em 1997

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A emenda constitucional que permite a reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso começará a ser discutida após o Carnaval sem que os principais promotores da idéia tenham se entendido sobre o momento oportuno de votar a proposta.
Reunida ontem na casa do presidente do PFL, Jorge Bornhausen, a cúpula do partido avaliou que é melhor deixar para 1997 a votação da emenda no plenário da Câmara, onde a reeleição precisará de 308 votos dos 513 deputados, em dois turnos de votação, antes de seguir para o Senado.
"O nosso problema não é adiar a votação, mas conseguir aprovar a proposta", disse Bornhausen. O anfitrião do encontro disse que não considera "impossível", embora "improvável", que a votação ocorra até o fim do ano, desde que haja maioria favorável à reeleição.
O PSDB (partido de FHC) insiste em apressar a votação para o período que antecede as eleições para as prefeituras. "Se deixar para o ano que vem, não se faz a reeleição", reagiu o líder do partido no Senado, Sérgio Machado (PSDB-CE), ao ser informado sobre o encontro pefelista.
Liderado pelo ministro das Comunicações, Sérgio Motta, o PSDB acredita que, se a votação ficar para o ano que vem, a reeleição de FHC se tornará mais complicada porque a disputa sucessória já estará deflagrada.
O principal argumento do PFL são as reformas constitucionais -previdenciária, administrativa e tributária-, que estão em tramitação no Congresso.
"Tem muita coisa para ser votada antes da reeleição", ponderou o líder na Câmara, Inocêncio Oliveira (PE). "Por mais certas que sejam as coisas, é preciso escolher o momento certo", teorizou.
PSDB e PFL estão fechados no apoio à proposta de reeleição de FHC. Se a emenda for aprovada, os dois partidos pretendem reeditar a aliança de 1994 para tentar permanecer no poder até 2002.
Tanto estão unidos que o PFL decidiu não pôr obstáculos à iniciativa tucana de apressar o debate sobre a reeleição.
O presidente da Câmara, Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), ficou de instalar, após o Carnaval, a comissão especial que debaterá a emenda, conforme antecipou a Folha há uma semana. A decisão de Luís Eduardo abre uma chance para que o cronograma idealizado por Sérgio Motta saia do papel.
O presidente da Câmara concorda em votar a emenda na comissão especial logo, mas prefere discutir mais sobre o momento oportuno de levá-la para o teste do plenário.
O principal desafio dos defensores da reeleição é conseguir votos no PMDB. Decididos a lançar um candidato próprio à sucessão de FHC, os peemedebistas fazem forte oposição à reeleição.
Sarney
O presidente do Congresso, senador José Sarney (PMDB-AP), defendeu ontem que a reeleição fique mesmo para 97.
"Este ano não teremos condições de votar a emenda. No próximo ano, teremos uma pauta menos carregada e será a melhor época para analisarmos um assunto de tamanha profundidade", afirmou.
Sarney disse que o Congresso não terá tempo de aprovar a emenda neste ano, antes do prazo de desincompatibilização dos prefeitos (seis meses antes das eleições).
Planalto
O porta-voz da Presidência, Sergio Amaral, disse que o presidente Fernando Henrique Cardoso considera "inoportuno" um movimento de mobilização pela reeleição. Segundo ele, FHC proibiu o uso da máquina do governo para uma campanha desse tipo e disse que esse tema não o preocupa.
Segundo Amaral, o presidente da Radiobrás, Maurílio Ferreira Lima, será "advertido" se usar a estatal para divulgar a reeleição: "Ele (Ferreira Lima) me disse que nunca utilizou a Radiobrás para isso e nem intenciona usar".

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