São Paulo, terça-feira, 13 de fevereiro de 1996
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Detentas mantêm 37 reféns por 16 horas

DA REPORTAGEM LOCAL

Um grupo de 160 detentas da Penitenciária Feminina do Tatuapé (zona leste de São Paulo) fez 37 reféns e manteve-se rebelado por 16 horas. Entre os reféns, havia dez crianças -uma delas um bebê de oito meses.
O motim acabou ontem, às 8h, depois que as presas incendiaram móveis e colchões. Ninguém ficou ferido na sexta revolta em presídio na cidade em 1996 -as outras cinco aconteceram na Casa de Detenção, no Carandiru (zona norte).
A rebelião começou às 16h20 de anteontem, durante o horário de visita. As presas do pavilhão 1 recusaram-se a voltar às celas e tomaram 34 familiares das detentas e três funcionários como reféns.
As rebeladas exigiam a presença do juiz-corregedor da Vara das Execuções Criminais. Elas reclamavam da falta de higiene na cadeia -diziam ser obrigadas a conviver com ratos e baratas-, da morosidade de seus processos e denunciavam que seus filhos estavam sendo adotados sem autorização.
Pouco depois, as 56 presas do pavilhão 3 também se amotinaram. Elas fizeram dois funcionários do presídio como reféns. Suas reivindicações eram as mesmas das outras rebeladas.
Esses dois funcionários foram libertados pouco depois pela direção do presídio e as detentas do pavilhão 3 abandonaram o motim. Em seguida, a PM e a Polícia Civil reforçaram a segurança do exterior da muralha da penitenciária.
Por volta das 19h, o juiz-corregedor Ivo de Almeida chegou ao presídio. Uma hora depois, chegou o diretor da Coespe (Coordenadoria dos Estabelecimentos Penitenciários do Estado), Lourival Gomes, 46.
Os dois negociaram com as detentas. Ficou decidido que o juiz-corregedor iria reexaminar os processos.
Ao mesmo tempo, Gomes prometeu reformar a rede hidráulica, dedetizar o presídio e facilitar o acesso das mães presas aos filhos. Com isso, as presas decidiram libertar os reféns ao amanhecer.
"Elas alegaram que precisaram manter os reféns a fim de garantir sua segurança durante a noite", afirmou Gomes. Por volta das 3h30, o juiz deixou o presídio.
Pela manhã, as presas exigiram a presença da imprensa para que os reféns fossem libertados. Por volta das 7h, eles foram soltos. Mas, a presença de PMs num corredor entre os pavilhões da penitenciária fez a rebelião recomeçar.
As presas retiveram seis familiares e um funcionário que ainda estavam no pátio do pavilhão 1 e atearam fogo em móveis e colchões. Desta vez, exigiam que o diretor da Coespe garantisse que não haveria represálias.
Por volta das 8h, as detentas concordaram em libertar os últimos reféns, encerrando a rebelião cerca de 15 minutos depois.

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