São Paulo, terça-feira, 13 de fevereiro de 1996
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Lançamentos refazem rota psicodélica dos anos 60

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REDAÇÃO

Ao contrário do que se pode pensar, nem só de Beatles e Stones se fizeram os anos 60. Dois lançamentos trazem à tona um lado menos luminoso da segunda geração do rock'n'roll, que ajuda a definir o percurso cronológico dos 60, do bom comportamento rumo ao psicodelismo desenfreado.
Um dos lançamentos é "Love Story - 1966-1972", coletânea dupla da banda californiana Love, um dos primeiros grupos multirraciais da história do rock; Arthur Lee, alucinado líder do Love, e o guitarrista John Echols eram negros, Bryan Maclean (ex-roadie dos Byrds) e os demais, brancos.
O outro lançamento vem do lado de lá do oceano Atlântico. A independente Paradoxx recupera dois dos primeiros trabalhos da banda inglesa Small Faces, "Small Faces" (1966) e "Ogden's Nut Gone Flake" (1968).
O resgate contempla duas faces dos Faces, da típica cena "mod" -de grupos moderninhos e ao mesmo tempo bem-comportados de meados dos 60- do primeiro ao mergulho no psicodelismo do segundo.
Liderados em sua origem por Steve Marriott e Ronnie Lane, os Small Faces compuseram a efervescente cena inglesa, com bandas como The Who, Yardbirds, Kinks, Them, Pretty Things.
Com a saída de Marriott, em 1970, tornaram-se simplesmente Faces, introjetando Rod Stewart como vocalista e Ron Wood (depois um Stone) como guitarrista e se aprofundando no rock básico e no blues. Mas já era outra história.
Love
Foi Arthur Lee o produtor da faixa em que Jimi Hendrix pela primeira vez pisou num estúdio, como acompanhante. Lee se dizia o primeiro hippie negro, sem o qual não haveria Hendrix nem Sly Stone. Foi Lee o modelo de Jim Morrison, que, no início da carreira de seus Doors, tinha por objetivo ser tão grande quanto o Love.
O substrato criativo era, claro, LSD. Iconoclasta, Lee dava as costas à possibilidade de sucesso. Ao terminar o antológico "Forever Changes", terceiro disco do Love, concluído sob a certeza de Lee de que ia morrer após as gravações, ele simplesmente demitiu a banda e formou um novo Love.
Echols e o baixista Ken Forssi pouco depois foram presos e condenados por assalto a mão armada. Forssi se reabilitou, de Echols hoje não se sabe o paradeiro. Lee andou às voltas com outras formações do Love e discos solo.
Andou sumido por uma década, desde 1981. Voltou ao disco afinal em 1992, ainda instável e despreocupado com o sucesso -que, a bem dizer, nunca lhe fez falta.

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