São Paulo, terça-feira, 13 de fevereiro de 1996
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Xô, Euler Ribeiro

FERNANDO RODRIGUES

BRASÍLIA - De todas as personagens envolvidas nessa tragédia grega em que se transformou a reforma da Previdência uma é a mais triste e grotesca ao mesmo tempo. Seu nome é Euler Esteves Ribeiro, tem 54 anos, nasceu em Itacoatiara (AM) e é deputado federal pelo PMDB.
O amazonense é o relator do projeto da Previdência. O relator é o deputado que recebe o projeto de lei ou emenda constitucional, faz uma análise e produz um parecer no qual recomenda adendos e cortes ao proposto inicialmente.
Euler transfigurou o projeto de reforma da Previdência, que já era ruim. Pior do que isso, aprimorou privilégios de gente que vive há décadas rindo à custa do dinheiro público.
Um desses privilégios é dos mais torpes. Refere-se aos funcionários públicos de carreira. São os juízes, os procuradores, os fiscais da receita etc. Em resumo, aqueles que recebem os melhores salários. Sempre puderam se aposentar com o último salário integral, sem restrições, como qualquer servidor.
O privilégio foi mantido para os funcionários públicos de carreira. Só que Euler subtraiu, ardilosamente, essa mamata dos funcionários públicos "sem carreira", aqueles que ocupam cargos menores -ascensoristas, faxineiros etc-, os de salários mais baixos.
Nenhum funcionário público, de carreira ou não, merece tal benefício. Só que, a pretexto de estar excluindo a vantagem de todos, Euler retirou-a apenas da maioria, dos mais pobres.
Euler anda espalhando que a fonte inspiradora da manutenção do privilégio foi a CUT. Não confere.
É curioso que o relator não diga palavra sobre as insistentes sugestões para seu texto que recebeu de associações de juízes, como a Associação dos Magistrados Brasileiros.
O Brasil jamais teria conhecido Euler não tivesse ele sido apontado relator da emenda da Previdência. Um dos erros funestos dessa tragédia.
Hoje, se tudo ocorrer como espera o governo, deve começar a ser analisada no plenário da Câmara a reforma que foi sem nunca ter sido. Se passar, talvez ainda neste mês de fevereiro, ficará quase tudo igual.
Pelo menos, votada a "reforma", Euler voltará para o oblívio. De onde nunca deveria ter saído.

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