São Paulo, sexta-feira, 16 de fevereiro de 1996
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Brasil abre mercados

CELSO PINTO

Nas próximas semanas, o Brasil vai fazer dois lançamentos de bônus, abrindo dois novos mercados.
Um deles será no mercado interno japonês, o chamado mercado Samurai, de 30 bilhões de ienes ou cerca de US$ 300 milhões.
O outro, de US$ 10 milhões, será no mercado interno americano, o mercado Yankee.
São mercados novos porque são emissões destinadas a investidores internos dos dois países. As exigências são muito mais estritas.
O mercado Yankee é um mercado gigantesco, que inclui os investidores finais americanos, dos espertos de Wall Street às viúvas de Iowa.
Não se confunde com o mercado de eurobônus em dólares, títulos de circulação restrita nos Estados Unidos a investidores institucionais.
Da mesma forma, a própria República do Brasil já havia feito uma emissão, ano passado, no chamado mercado de euroienes.
São papéis de circulação restrita, que não chegam ao investidor final de varejo japonês.
O mercado Samurai inclui estes investidores. Por esta razão, o governo japonês, até o final do ano passado, só aceitava lançamentos neste mercado de emissores que tivessem o chamado "investment grade", ou seja, cuja avaliação pelas agências que medem o risco, superassem uma classificação mínima.
Ano passado, dois emissores latino-americanos acima do "investment grade" foram ao mercado Samurai: a Colômbia e a Corporação Andina de Fomento.
O Brasil será o primeiro emissor latino sem esse nível mínimo de classificação a ir a este mercado. Aproveitará a flexibilização das regras a partir deste ano.
A operação japonesa vai ser feita um pouco antes da visita do presidente Fernando Henrique Cardoso ao Japão, dia 19 de março, para o presidente não ser confundido com um vendedor de títulos.
Na prática, ele ajudará. Mesmo que o lançamento aconteça na primeira semana de março, leva algum tempo antes que os papéis cheguem ao varejo -e a presença de Cardoso será benéfica.
No lançamento de euroienes do ano passado, o Banco Central foi muito criticado por ter aceito pagar juros muito elevados.
A prioridade, naquele momento, era levantar o maior volume possível (ainda se sentiam os rescaldos da crise do México).
O Brasil acabou tomando quase US$ 1 bilhão, por dois anos, pagando 4,7 pontos percentuais (ou 470 pontos-base de porcentagem, como prefere designar o mercado) acima do que pagava, na época, um título do Tesouro americano de prazo equivalente.
Desta vez, a prioridade do BC não é volume, nem poderia ser. O BC, hoje, lida com o problema oposto: o excesso de entrada de dólares e os efeitos monetários negativos que isso acarreta.
A prioridade é tanto abrir um novo mercado ao país, como pagar o menor preço possível, de forma a estabelecer um parâmetro, um piso, a partir do qual outros tomadores privados brasileiros poderão, mais tarde, explorar o mesmo mercado.
A informação do BC ao mercado menciona juros de 5% ao ano, para um prazo de cinco anos.
A taxa pode, eventualmente, ser ainda um pouco menor na hora do lançamento, mas o parâmetro é este.
Esta taxa se compara a uma remuneração de 2,17% paga por títulos do governo japonês para colocar papéis pelo mesmo prazo de cinco anos.
Ou seja, o Brasil pretende pagar 2,83 pontos de porcentagem (ou 283 pontos-base de porcentagem) acima do papel mais sólido e com menor risco no mercado japonês.
Feita a devida conversão ("swap") de ienes em dólares e comparando a remuneração com a dos títulos do Tesouro americano de cinco anos, o prêmio (ou "spread") brasileiro fica em 285 pontos-base.
É uma taxa muito interessante para o país, quase 200 pontos-base de porcentagem abaixo do lançamento em euroienes e bem abaixo do que tanto o México quanto a Argentina têm pago em lançamentos recentes no mercado internacional.
Num "global bond" lançado nos Estados Unidos, de US$ 1 bilhão, o México pagou, recentemente, um "spread" de 445 pontos-base acima dos títulos do Tesouro americano para cinco anos.
A Argentina, por 1 bilhão de marcos alemães, prazo de sete anos, pagou um "spread" de 473 pontos-base sobre os títulos do governo alemão.
Já o lançamento simbólico de US$ 10 milhões no mercado Yankee servirá apenas para cumprir as extensas formalidades das autoridades americanas, válidas para um programa muito maior.
Feita a emissão inicial, liderada pela Goldman Sachs, o governo poderá fazer outros lançamentos futuros dentro do programa, sem burocracia. O objetivo básico, também neste caso, é abrir o mercado e estabelecer o menor juro possível.

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