São Paulo, sexta-feira, 16 de fevereiro de 1996
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Polícia quer investigar 10 congressistas

ABNOR GONDIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A Polícia Federal (PF) pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) autorização para investigar quatro senadores e seis deputados cujos nomes constam de documentos encontrados na pasta cor-de-rosa do Banco Econômico.
A iniciativa ocorre após a polícia ter identificado pelo menos cinco empresas "fantasmas" que trabalharam para esses políticos.
A pasta, encontrada por funcionários do Banco Central quando da intervenção federal na instituição financeira, contém uma relação de candidatos nas eleições de 1990 que supostamente teriam recebido contribuições financeiras do Econômico.
No mesmo pedido, a PF solicitou ao Supremo a quebra de sigilo bancário do Econômico -para poder rastrear os 48 cheques emitidos em favor de empresas que teriam financiado candidatos- e acesso à contabilidade do banco.
A polícia quer investigar o senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) que, pelos documentos da pasta cor-de-rosa, teria sido o maior beneficiado pelo Econômico, com doações no valor de US$ 1,1 milhão dos US$ 2,4 milhões liberados para 27 candidatos.
Os nomes
Os outros senadores citados são: José Sarney (PMDB-AP), José Agripino Maia (PFL-RN) e Renan Calheiros (PMDB-AL).
Roberto Campos (PPR-RJ), Roberto Santos (PSDB-BA), Paes Landim (PFL-PI), Leur Lomanto (PFL-BA), Manoel Castro (PFL-BA) e Sérgio Carneiro (PDT-BA) são os deputados que a PF quer investigar.
Conduzido pelo delegado Paulo Lacerda, o mesmo que investigou o esquema PC, o inquérito, concluído em um mês, levanta suspeitas de envolvimento dos parlamentares em crimes tributários e financeiros -os mesmos crimes que levaram na semana passada ao indiciamento do ex-presidente do Econômico Ângelo Calmon de Sá e seu ex-chefe de gabinete Antonio Ivo de Almeida.
A polícia levantou indícios de que auxiliares dos candidatos beneficiados possam ser responsáveis pelo fornecimento de notas fiscais falsas emitidas por cinco empresas. Cópias dessas notas, no valor atualizado de US$ 780,2 mil, foram encontradas na pasta.
Um dos suspeitos é o empresário Artur Valente, que foi suplente do vice-presidente da República, Marco Maciel, em 1990, quando ele se candidatou ao Senado.
A suspeita contra ele baseia-se em uma nota falsa de US$ 172 mil enviada pela construtora Seno ao Econômico. A nota era de uma gráfica "fantasma", a Itacuruba (PE), desativada em 1988.
Ao depor, Valente reconheceu que o fax com a nota falsa foi passado pelo aparelho da sua construtora, mas negou que tenha enviado o documento. O empresário não foi localizado ontem em Recife.
Outras três empresas "fantasmas" teriam emitido notas frias ao Econômico -Dinês Indústria e Comércio, de São Paulo, Gráfica Estrela, da Bahia, e Pacheco e Kummer Ltda, de Alagoas.
No inquérito, consta que a nota da Pint's Serigrafia (BA) enviada ao Econômico teria sido adulterada com um zero a mais. O dono da empresa mostrou que a cópia de sua nota tinha um zero a menos.
O delegado pediu ao Supremo Tribunal Federal diligências complementares e a realização de exames grafotécnicos para identificar os autores dos manuscritos constantes na pasta rosa.

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