São Paulo, sexta-feira, 16 de fevereiro de 1996
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Governo do ES intervém em 4 hospitais privados

FÁBIO ZANINI
DA AGÊNCIA FOLHA

O governador do Espírito Santo, Vítor Buaiz (PT), decretou na tarde de ontem intervenção em quatro hospitais privados do Estado.
Segundo Buaiz, a decisão foi tomada para garantir o atendimento gratuito à população de baixa renda, ameaçado após o pedido de demissão de 16 cirurgiões da rede pública.
Cerca de 2.500 médicos da rede estadual estão em greve há cinco meses. "Eles se sentem pressionados pela péssimas condições de trabalho nos hospitais", disse Ricardo Baptista, 45, presidente do Sindicato dos Médicos do Espírito Santo.
Segundo Baptista, o baixo piso salarial da categoria (por volta de R$ 600) e o atraso de um mês no pagamento dos salários vêm desgastando o trabalho dos médicos.
"O governo também está atrasando o repasse das verbas do SUS (Sistema Único de Saúde), que já é uma vergonha", afirmou.
Baptista deu o exemplo do preço que o governo paga por uma consulta simples (R$ 2), quando a Associação Brasileira dos Médicos defende um valor dez vezes maior.
"A gota d'água nessa situação foi o veto imposto pelo governador à intenção dos cirurgiões do Estado de organizar uma cooperativa própria, pela qual venderiam serviços ao Estado por um preço mais justo", afirmou.
Ele disse que a categoria está decepcionada com o governador. "Pior é lembrar que ele foi presidente do nosso sindicato há 12 anos atrás e naquela época defendia piso de dez salários mínimos".
O governador Vítor Buaiz disse que a situação do setor de saúde do Estado decorre do atraso na liberação de verbas federais.
"Hoje (ontem) mesmo pedi auxílio ao ministro Jatene, mas ele disse que maiores recursos só serão possíveis se o Congresso aprovar o imposto do cheque para financiar a saúde", afirmou o governador.
Buaiz disse que sua decisão de intervir em hospitais privados tem base legal. "É um dever do Estado garantir a saúde da população. O trabalho dos cirurgiões é dos mais importantes num hospital."
O governador afirmou que vetou a implantação das cooperativas porque não tem condições de pagar mais do que determina a tabela do SUS. "Alguns médicos queriam salário de R$ 5.000 por mês. É inviável", afirmou. Buaiz disse ainda que vai abrir concurso publico para realizar novas contratações.
Para Baptista, o governo não vai conseguir repor os médicos demissionários. "É improvável que consiga fazer novas contratações por esse salário. Temos informações que mais profissionais pretendem se demitir", disse.
A Agência Folha tentou falar com diretores dos hospitais que sofreram intervenção, mas não encontrou nenhum deles na noite de ontem.

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