São Paulo, sexta-feira, 16 de fevereiro de 1996
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Desculpa esfarrapada

Como se não bastassem o terrível saldo de 54 mortes e todos os transtornos gerados pelas chuvas que atingem impiedosamente o Estado do Rio de Janeiro desde a última terça-feira, os cidadãos cariocas, sobretudo os menos favorecidos, ainda têm de conviver com o afrontoso repertório de desculpas infelizes e pseudoatenuantes trazido a público pelo prefeito da capital.
Ao transferir a responsabilidade pelas mortes nas encostas dos morros cariocas aos favelados que ali habitam -alertados, segundo César Maia, do perigo que corriam-, o prefeito pretende primeiramente fazer crer que essa população teria à sua disposição moradias melhores do que as que infelizmente se vê obrigada a ocupar há anos.
Pior porém é a autoridade máxima municipal querer ignorar que é sua função zelar pelas áreas de alto risco para habitação, ainda que cedo ou tarde tenha de decidir pela impopular remoção de seus moradores, sempre sujeitos a desastres como o ocorrido nesta semana.
Por fim, as dramáticas imagens expostas por jornais e televisões desmentem com inequívoca clareza que os danos materiais registrados na cidade sejam "praticamente nada", como diz Maia, se comparados aos que ocorreram em chuvas anteriores. Por mais graves que tenham sido as calamidades anteriores, parece pouco consolador, e até ocioso, fazer comparações entre o péssimo e o catastrófico.
Mais proveitoso seria a prefeitura assumir com presteza suas responsabilidades, minorando o mal já consumado e evitando que outros venham a ocorrer.

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