São Paulo, sábado, 17 de fevereiro de 1996
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Folia e tragédia

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Como disse um âncora da CBN, não sem ironia, "apesar das dificuldades, das tragédias da semana, o brasileiro é um forte: bom Carnaval!"
O Rio nem contou todos os corpos, o Vale do Paraíba ainda tem mortes acontecendo, mas o que importa é a folia.
Com alguma resistência, ou vergonha, o otimismo e o riso aos poucos foram tomando a cobertura, ontem.
Por exemplo, a Manchete mostrou um congestionamento no Rio e disse que o carioca, "com três, quatro, até cinco horas preso no engarrafamento, reclama do prefeito, mas não perde a esportiva".
Seguiu-se um diálogo entre repórter e cidadão:
- Deu para ficar cansado, nesta viagem?
- Deu para ficar cansado, e com sede.
- Mas vai brincar Carnaval à noite?
Com sorriso largo:
- Se Deus quiser!
Em São Paulo -e em plena rodoviária- a Globo descobriu que "quem planejou curtir o Carnaval da cidade maravilhosa está otimista".
Mais um diálogo:
- Não desanimou de ir para o Rio de Janeiro?
- De jeito nenhum. E vai fazer sol! (risos)
Risos, nada de tragédia.
Tem que ser
Aliás, como são diversas as edições de São Paulo e do Rio, na mesma Rede Globo.
Anteontem, segundo a Globo Rio: "a expectativa dos hotéis do Rio é de que as reservas não sejam canceladas".
Anteontem, segundo a Globo São Paulo: "os cancelamentos parecem apenas ter começado: esperavam-se 300 mil turistas no Rio, e um quinto, 60 mil, já teria desistido".
Ontem, segundo a Globo Rio: "pela rodoviária Novo Rio devem passar 500 mil, um movimento 15% maior do que no ano passado".
Vai saber... De verdade, na história, só que "o brasileiro é um forte" e quer esquecer a tragédia na folia.
Ou então, como observou o prefeito César Maia:
- Se dar menos alegria à nossa festa fosse uma solução... O Carnaval do Rio expressa um compromisso da cidade com o país, com um conjunto grande de turistas, e portanto tem que ser realizado com brilho.
Mais alegria! Brilho!

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