São Paulo, sábado, 17 de fevereiro de 1996
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Depoimento de Cameli não convence juiz

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governador do Acre, Orleir Cameli (PPB), não conseguiu explicar ontem à Justiça como o dinheiro de um convênio, assinado em 94 entre o governo do Estado e a Prefeitura de Cruzeiro do Sul, para a recuperação de rodovias, foi parar nas contas de uma empresa de sua família.
O ministro Eduardo Ribeiro, relator no STJ (Superior Tribunal de Justiça) do inquérito que apura suposto desvio de verbas pelo governador, tomou pela manhã o depoimento de Cameli.
Ele não ficou convencido com as explicações prestadas pelo governador no depoimento.
Durante o depoimento, o governador disse que tomou conhecimento pela imprensa de que o dinheiro destinado ao programa de recuperação de rodovias teria sido desviado para outra empresa da família, a Cameli Comercial Distribuidora Ltda. O ministro apontou contradições no episódio.
Ribeiro disse que existe no inquérito comprovante bancário atestando que o dinheiro repassado pelo governo estadual à Prefeitura de Cruzeiro do Sul, no valor de R$ 60 mil, foi depositado na conta corrente da empresa Marmud Cameli, na qual o governador do Acre é sócio cotista.
"Não há explicação convincente para esse cheque ter parado na conta de Marmud", afirmou o ministro do STJ.
Ribeiro vai encaminhar o inquérito à Procuradoria Geral da República, que poderá oferecer denúncia contra Cameli por crime de peculato.
"Somos milionários"
Na saída do STJ, Cameli afirmou que não "sujaria" o nome de sua família por uma quantia tão irrisória.
"Depois que prestei serviços no valor de R$ 10 milhões, R$ 15 milhões em doações, é ridículo querer me incriminar por R$ 60 mil. Somos milionários", afirmou o governador.
"Qual interesse eu teria, sendo dono de duas ou três empresas, com patrimônio altíssimo, de sujar o meu nome e o de minha família?", perguntou Cameli aos jornalistas.
Ele atribuiu as acusações que tramitam contra ele na Justiça aos adversários políticos.
Segundo Cameli, as denúncias estão acontecendo porque, desde que assumiu o governo do Acre, vem cortando privilégios de corporações do funcionalismo.
Ele citou como exemplo o fato de ter acabado com a aposentadoria de 17 servidores, entre eles ex-governadores que hoje estão no Senado Federal.
O governador também está indiciado em outros dois inquéritos no STJ, que apuram a ocorrência de supostos crimes de falsidade ideológica e dispensa ilegal de licitação pública.
Cameli é acusado de ter pelo menos quatro registros de inscrição no CPF (Cadastro de Pessoas Físicas).

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