São Paulo, sábado, 17 de fevereiro de 1996
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Prefeitura vai 'fechar' favela na zona oeste

CLÁUDIA MATTOS; SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

A Subprefeitura da Barra e Jacarepaguá decidiu acabar com a favela da Cidade de Deus, em Jacarepaguá (zona oeste), onde 12 pessoas morreram devido às chuvas do início da semana.
Ontem, o Corpo de Bombeiros contabilizou mais três mortes, uma em Cidade de Deus e duas em outras regiões de Jacarepaguá. Com isso, o número de vítimas sobe para 68 -58 só na capital.
Os barracos que resistiram à chuva serão demolidos hoje, segundo o subprefeito da Barra, Eduardo Paes. A demolição aconteceria ontem, mas foi adiada para hoje. "Conversamos com o presidente da associação de moradores e com uma comissão de três moradores e decidimos adiar a demolição para que eles tivessem tempo de retirar seus pertences", disse.
No acordo feito ontem com os moradores, ficou estabelecido que eles terão até as 13h de hoje para tirar tudo o que quiserem de seus barracos.
Segundo Paes, os moradores, que estão provisoriamente abrigados em creches e escolas públicas da região, devem ser transferidos para um terreno da prefeitura também em Jacarepaguá.
"Só não podemos dar a localização exata para onde eles serão transferidos para evitar que ele seja invadido por outras pessoas que não sejam os desabrigados da Cidade de Deus", afirmou Paes.
A subprefeitura estima que, na favela da cidade de Deus, moravam entre 450 e 500 famílias.
A ação da subprefeitura antecipa a decisão da Defesa Civil do município. Engenheiros da instituição, que estiveram no local para fazer uma avaliação preliminar da situação, condenaram a maioria dos barracos.
Ontem, no entanto, a Defesa Civil ainda pensava em fazer um avaliação detalhada do local, provavelmente na semana que vem, para decidir o destino dos barracos.
Obras
A falta de obras do governo estadual agravou as consequências das enchentes que inundaram a baixada de Jacarepaguá (zona oeste), onde 44 pessoas morreram depois das fortes chuvas.
Para evitar as enchentes seriam necessários a dragagem dos 20 rios, valões e canais que atravessam Jacarepaguá e obras de ampliação da rede de drenagem da água da chuva. As obras não foram feitas. Em consequência, os rios saíram dos leitos, inundando ruas, casas, arrastando carros e até barracos nas favelas de Rio das Pedras e Cidade de Deus, as mais atingidas da zona oeste.
O procurador-geral de Justiça, Hamilton Carvalhido, determinou uma investigação para saber se houve omissão dos governos estadual e municipal na assistência às vítimas. Caso seja confirmada a omissão, Carvalhido disse que processará a prefeitura e o Estado.
O governador em exercício do Estado do Rio, Luiz Paulo Correa da Rocha (PSDB), confirmou que, com exceção do canal do Anil, há 17 anos os rios de Jacarepaguá não são dragados. Em 95, o governo estadual priorizou as obras na região da Baixada Fluminense.
Para Rocha, outros fatores, como a chuva recorde na região e deslizamentos de terra para dentro do leito dos rios, foram também causas dos grandes estragos e mortes. "Os danos causados pela chuva não foram só devido à falta de dragagem dos rios, mas foi um dos três fatores que provocaram os acontecimentos", afirmou.
Rocha disse que a administração do governador Marcello Alencar, que viajou para os EUA, está "trabalhando com um grande volume de problemas e com um caixa não tão grande".
Para realizar as obras necessárias à recuperação de estradas e ruas, limpar os rios e também auxiliar as vítimas da enchente, o governo do Estado enviou ontem ao governo federal pedido de liberação de verbas em caráter de urgência.

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